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Deixando claro

Melhor ser nem só pelo trabalho, nem pelo capital apenas. Afinal, o capital sempre foi e é feito pelo trabalho – e, mesmo quando herdado, dura só até quando é trabalhado.

Impossível ser a favor da propriedade privada, já que ela não existe: quem pode dizer que tem só para si terra ou imóvel sujeitos a tantos impostos e normas?

Então viva a propriedade social e ambientalmente correta, mas e os assentamentos? A própria palavra já confessa que querem sentar em vez de trabalhar. E o sem-terra, se bem sucedido, não passará a ser proprietário de classe média?

O caminho parece ser um regime que compreenda quem empreende, conforme Adam Smith, e respeite quem só tem trabalho a vender, conforme Marx

É claro também que todo trabalhador, trabalhando bem, mesmo braçalmente, pode juntar capital para trabalhar por ele. E todo empreendedor pode se tornar milionário e sua herança virar pó na mão de herdeiros incompetentes – ou (mal) educados para não se preocuparem com dinheiro.

Afinal, o mercado é floresta onde árvores têm de morrer para crescimento de novas árvores, só que a sucessão social é muito mais rápida que a florestal, então morrem tantas empresas. A mortalidade empresarial nem se compara à humana: já pensou se 80% das pessoas, como acontece com as empresas, morressem antes de dois anos de vida?

Mas o vírus da iniciativa é forte, está sempre contaminando outros trabalhadores para se tornarem microempresários, os micros virando médios, os médios grandes, até se dissolverem em falências, e o baralho capital/trabalho vai fazendo seu jogo.

Sempre que o capital só quer ganhar, perde no fim das contas.

E sempre que o trabalho quer castigar o capital, sofre.

Rússia e China são os maiores exemplos de distorção entre capital ou lucro e trabalho ou salário, as maiores invenções depois da linguagem. E os Estados Unidos são a maior vitrine da busca humana por liberdade, oportunidade e responsabilidade, no entanto ainda gerando tantas barbaridades.

Hoje é claro que a herança de Marx é a reforma do liberalismo – pois que empresa é livre com tantos impostos, encargos e normas? Graças à ameaça socialista, o capitalismo se reformou.

O caminho parece ser um regime que compreenda quem empreende, conforme Adam Smith, e respeite quem só tem trabalho a vender, conforme Marx.

Mas, para se dizer social-democrata, o brasileiro tem de esquecer que a compra de deputados em massa começou num governo social-democrata.

Fica claro que, no nosso cenário partidário, melhor é crer na renovação das ruínas. Só esperemos que as reformas para valer, impulsionadas e vigiadas pela sociedade, aconteçam antes de a gente fechar os olhos para os telejornais.

A gente pode dormir aquele sono de Shakespeare e aqui continuar o pesadelo do Brasil ainda acreditando em melhorar de cima para baixo. Isso deu certo só quando descemos das árvores, endireitando a coluna e transformando as patas em mãos para trabalhar a terra. Ou a Terra.

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