| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Há alguns anos observando nossa nação ser consumida pelo populismo, resolvi fazer palestras em escolas públicas e doar livros como maneira de formar melhores eleitores. Pois a verdade é que o brasileiro vota mal. Desculpem a aparente arrogância, mas os resultados falam por si. Nossos gestores públicos e parlamentares, escolhidos pelo voto, têm, em média, uma qualidade técnica e moral muito baixa. Há pessoas muito melhores que eles disponíveis entre nossos compatriotas, mas a democracia parece insistir em ignorá-los e optar pelos piores. Naturalmente há exceções, mas é exatamente este o problema: são exceções.

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É um círculo vicioso em que péssimos eleitores elegem péssimos políticos, que não educam os eleitores, que novamente elegem péssimos políticos. A classe política brasileira é reflexo do nível ainda muito baixo de instrução de nossa população. A qualidade de nossa educação figura entre as piores do mundo, segundo testes como o Pisa. Uma parcela enorme de nossa gente é analfabeta absoluta ou funcional. Segundo estudo conduzido pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, apenas 8 % dos brasileiros em idade de trabalhar encaixam-se no nível “proficiente”, o mais avançado em um índice chamado Indicador de Alfabetismo Funcional. Segundo o índice, somente pessoas nessa categoria são plenamente capazes de compreender e se expressar através de letras e números. Em situação ideal, o estudante que completasse o ensino médio deveria ser proficiente. Mas o relatório resultante do estudo aponta 4% dos brasileiros como analfabetos, 23% no nível rudimentar de alfabetismo, 42 % no nível elementar, 23% no nível intermediário e, finalmente, 8% de proficientes.

Há outros estudos e diferentes critérios, mas não há dúvida de que uma parcela muito grande de nossa população terá dificuldade, entre outras coisas, para distinguir um programa econômico sério de um pacote de mentiras populistas. A incapacidade de interpretar textos complexos, tabelas ou gráficos e de realizar operações matemáticas mantém enormes contingentes de eleitores prisioneiros de suas limitações e os leva a fazer escolhas eleitorais desastrosas. Houve aumento do número de alunos frequentando as escolas e alguma melhora dos conhecimentos de matemática, mas tudo a um ritmo muito lento e partindo de uma base muito baixa.

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Nossa população não sabe distinguir um programa econômico sério de um pacote de mentiras populistas

Precisamos eleger os melhores, tanto moral quanto tecnicamente. Considero inconcebível que alguém sem comprovado saber e sem uma bem-sucedida e honesta experiência administrativa torne-se presidente, governador ou prefeito. É como contratar alguém que nunca administrou nada com sucesso para ser presidente de uma empresa. Não é o que as empresas fazem, mas tem sido prática comum nas eleições.

Muitas vezes vota-se por identidade, por simpatia ou pela sedução das mentiras de uma boa oratória sem que isso esteja associado a comprovadas realizações pregressas. Não pergunte ao candidato o que ele pretende fazer. Também não pergunte a ele o que ele fez, mas investigue o que ele fez. Fatos, não palavras: é isso que conta.

Creio que nossa jovem democracia tem amadurecido e que nossa gente, mesmo a um alto custo, tem aprendido a votar melhor, mas é preciso andar mais rápido. Há milhões de desempregados esperando e dezenas de milhares nas filas dos hospitais.

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E o único caminho que vejo para nossa disfuncional democracia é a educação. Não proponho retirar dos governos a responsabilidade principal pela educação, e sim melhoras no sistema público e uma participação maior da iniciativa privada. As escolas administradas pelas Forças Armadas têm produzido excelentes resultados educacionais, comprovados em testes como o Enem. Aumentar o número dessas instituições é uma entre muitas alternativas para uma melhor aplicação de recursos públicos na educação. Naturalmente, eu e você esperamos forte atuação da União, estados e municípios no esforço de educar; afinal, eles ficam com quase 40% de tudo o que produzimos na forma de uma carga tributária alta e mal aplicada.

Não podemos esquecer a rede privada de ensino, melhor estruturada, mas que também tem deficiências e deve se submeter a cobranças de governos e clientes. Há, porém, uma terceira via muito importante: a participação direta de empresas e pessoas físicas em projetos educacionais. Minha proposta para você, compatriota, é o seu envolvimento direto e de sua empresa com a educação de nossa gente como uma forma de nos libertar do círculo vicioso de que tratei acima. Doe livros, adote um aluno fornecendo materiais, orientação e incentivo, faça palestras em escolas, ajude a pagar a faculdade de empregados ou cobre deles, como responsabilidade profissional, a leitura de um livro indicado ou fornecido por você. Crie uma academia ou escola de formação profissional em sua empresa ou outro projeto, mas faça algo. Já existem iniciativas como estas, mas poucas ainda.

Todos temos corresponsabilidade. O simples fato de você estar lendo este artigo significa que você pode fazer muito pela educação de outros. Talvez você esteja pensando: “Mas isto é tarefa do governo; não minha. Eu pago meus impostos”. Eu sei, e não lhe tiro a razão. Mas, se quisermos vencer o círculo vicioso em que péssimos eleitores elegem péssimos políticos que não educam os eleitores e que novamente elegem péssimos políticos, precisamos fazer algo novo.

Não se iluda. Cada ação ou omissão nossa soma no resultado final chamado nação brasileira, pela qual somos todos responsáveis.

Alan Schlup Sant’Anna é escritor e palestrante.