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Para que o nosso país possa continuar avan­­çando como mostram os índices de cres­­ci­­mento, é fundamental o ataque frontal a al­­guns setores estruturais, principalmente aos referentes à logística

É difícil esquecer os problemas que o caos aéreo provocou no Brasil anos atrás. Atrasos, voos cancelados e incidentes nos aeroportos quase viraram rotina no país. O início dos problemas começou porque o ritmo da procura pelo transporte aéreo não foi proporcional ao investimento na infraestrutura dos aeroportos.

Ou seja, mesmo com a demanda em crescimento, não houve planejamento de uma estratégia que atendesse esse mercado de maneira eficaz.

Essa confusão é vivenciada diariamente, e há muitos anos pelas empresas de transporte rodoviário de cargas no país. Prova disso foi o estudo di­­vul­­gado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que apontou que as rodovias brasileiras necessitam de R$ 183,5 bilhões em investimentos para dar conta das demandas atuais.

Foram identificadas três categorias de gargalos. A primeira, relacionada ao campo de recuperação, adequação e duplicação, que é a que mais demanda recursos: R$ 144,18 bilhões. Para construção e pa­­vimentação serão necessários outros R$ 38,5 bilhões. E a terceira categoria está relacionada com obras como pontes e viadutos, que carecem de R$ 830 milhões.

Chega a ser uma ironia que o principal sistema de transporte no Brasil, responsável por mais de 60% das cargas movimentadas, seja também um dos mais esquecidos pelos nossos governantes.

Basta analisarmos esses números. Desse total anunciado pelo Ipea, a primeira versão do Pro­­gra­­ma de Aceleração do Crescimento (PAC) contempla somente 13% das demandas identificadas, e apenas 7% no que se refere à recuperação e duplicação de vias.

Estradas em más condições, não duplicadas e inadequadas ao volume de tráfego atual são apenas alguns dos principais problemas enfrentados pelo setor. Isso sem comentar o descaso de nossos governantes, que fazem promessas e não conseguem cumpri-las, como é o caso do PAC, sem ações concretas em prol da infraestrutura do Brasil.

São mais de 25 anos sem qualquer investimento de grande porte, por parte do governo, na malha rodoviária. Atualmente, 70% das obras do PAC ligadas a rodovias estão com o cronograma atrasado. Parece que a importância desse assunto foi esquecida entre nossos representantes.

Há, no Brasil, inclusive problemas no sistema de contratos de concessão, que têm prazos de 25 anos e não preveem a ampliação da malha brasileira acordada para o período. Esses números não condizem com a importância desse tipo de transporte.

Para que o nosso país possa continuar avançando como mostram os índices de crescimento, é fundamental o ataque frontal a alguns setores estruturais, principalmente aos referentes à logística.

Mas, como já foi apontado por alguns empresários do segmento, essa reação da economia brasileira já começou a mostrar seu primeiro grande gargalo e um apagão logístico neste ou nos próximos anos é dado como inevitável.

Basta mencionarmos a última pesquisa rodoviária realizada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), que mostrou que 69% das rodovias apresentam problemas de pavimento, sinalização ou traçado.

Por isso, acredito que sem novos investimentos em infraestrutura, o Brasil corre um grande risco de vivenciar mais um apagão. E pior: desta vez não será apenas uma parcela da população que sentirá os reflexos deste caos. Toda a sociedade será prejudicada, pois a garantia de abastecimento da economia será ameaçada. Só espero que, desta vez, nossos governantes não precisem pagar para ver.

Fernando Klein Nunes é presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Paraná (Setcepar)

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