| Foto: Marcos Tavares/Thapcom
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Recentemente assistimos a uma série de protestos que resultaram em derrubadas de estátuas e depredação de monumentos históricos que homenageiam personagens e símbolos de uma cultura preconceituosa, machista, racista, colonizadora, ditatorial e escravagista. Foi o caso da estátua de Cristóvão Colombo, decapitada em Boston; do mercador de escravos Edward Colston, jogada em um rio, em Bristol; do rei Leopoldo II da Bélgica, vandalizada durante os protestos em Bruxelas. Esses casos não são isolados e imagens como essas tem percorrido o mundo, sobretudo após o recente episódio do caso George Floyd nos EUA.

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Defensores de protestos como esses argumentam que derrubar e vandalizar esses monumentos é descolonizar o presente; é cicatrizar as feridas do passado; é resgatar o senso de justiça com os que tanto sofreram e continuam sofrendo por conta de uma cultura etnocêntrica como essa. Mas tais protestos podem ser considerados legítimos? Eles são eficientes em ressignificar as feridas de um passado cruel e desumano?

Um primeiro cuidado que precisamos ter ao responder a essas questões é em relação às simplificações que o senso comum insiste em fazer com coisas que não são simples. Essa discussão não deve se resumir a concordar (ou não) com a derrubada de estátuas. O ponto central aqui deve ser a preocupação com os problemas sociais e culturais que ainda vivenciamos por conta de personagens históricos como os que estão na pauta dessa discussão e que foram homenageados em monumentos públicos. O que eles fizeram deve ser condenado pela história e os seus símbolos opressores devem ser apagados do presente de uma vez por todas. Mas, como fazer isso?

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Desde os tempos mais antigos, as sociedades parecem ter a necessidade de criação de símbolos que ajudem no processo de significação do mundo e de si mesmo. A criação desses símbolos sempre foi fundamental para que houvesse uma cooperação social mais sofisticada entre os povos. Da mesma forma, a derrubada desses símbolos tem a intenção de produzir seu efeito contrário.

Todavia, quando a derrubada desses símbolos é feita com o uso de violência, vidas inocentes se perdem pelo caminho. Quando Moisés exigiu a destruição do bezerro de ouro, incitou os hebreus a colocarem suas espadas sobre a coxa e ordenou que matassem seus irmãos, vizinhos, amigos, e naquele dia três mil homens foram mortos. Quando os nazistas começaram a queimar livros que tratavam dos símbolos da cultura judaica, acabou com o saldo de 6 milhões de judeus mortos. Ou seja, quando uma sociedade começa a derrubar estátuas de forma violenta, vidas serão destruídas em seguida. Será que agora, com os protestos pelo mundo em respeito ao assassinato de George Floyd, será diferente? Creio que não.

Por isso, sou a favor da remoção desses monumentos, desde que seja realizada por vias democráticas, fazendo uso das leis e da infraestrutura de um Estado de Direito consolidado, para criarmos as condições de libertação desse passado obscuro e cruel. Somente assim conseguiremos, de fato, cicatrizar as feridas que tanto causam sofrimento ainda hoje em nossa sociedade, sem prejuízos de vidas inocentes.

Antonio Djalma Braga Junior, doutor em Filosofia, é professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo.