Considerando a grande desvalorização do real frente às moedas estrangeiras, muitas empresas nacionais que dependiam fortemente da importação terão boas oportunidades de crescimento se conseguirem se adaptar a este novo cenário.

CARREGANDO :)

Nas últimas décadas, as indústrias têxteis e de vestuário da China, por exemplo, tiveram um crescimento espantoso, apesar das pressões sociais recentes que levaram à subida dos salários e ao aumento da classe média chinesa, num ritmo alucinante. Isso aconteceu porque essas indústrias investiram fortemente, neste período, em equipamentos de ponta e inovação, visando atender a necessidade crescente por novas demandas.

Se a grande conquista de países como China, Hong Kong, Índia e Paquistão foi oferecer produtos a preços muito baratos e, com isso, criar mais empregos e aumentar a base de consumo, devemos nos inspirar no sucesso que esses países tiveram para reverter uma tendência de queda na demanda brasileira. As indústrias têxteis nacionais até recentemente tinham grande parte de seus produtos desenvolvidos e fabricados naqueles países, em razão do custo de fabricação mais vantajoso quando comparado com o custo de fabricação brasileira com impostos – como PIS/Cofins, encargos sobre folha, contribuições patronais e previdência.

Publicidade

Se as indústrias brasileiras modernizarem suas fábricas e buscarem inovação, poderemos vislumbrar um futuro promissor

Embora o momento atual propicie uma busca de novos fornecedores de matéria prima e/ou produtos acabados pela alta valorização das moedas estrangeiras, as indústrias brasileiras terão dificuldade em conseguir competitividade no curto prazo em comparação com a concorrência. Como oportunidade, o momento atual deve servir de estímulo para o empresariado nacional procurar alternativas de melhoria do processo produtivo têxtil para que o fluxo de capital seja investido em nosso próprio país.

Considerando que as grandes empresas varejistas possuem um nível de governança bem desenvolvido, com forte preocupação com questões ambientais e éticas, como o respeito aos direitos dos funcionários terceirizados, faz-se necessário que todo o processo produtivo seja acompanhado de perto pelas redes varejistas, com olhar não somente para a qualidade dos produtos entregues, mas também para o ambiente e o respeito aos funcionários. Essa “auditoria” inclui desde a produção de fios até o processo de confecção de produtos de vestuário ou artigos para o lar (cama, mesa, banho, decoração) usualmente produzidos por inúmeros pequenos empresários.

A partir deste momento, além dos investimentos que o empresariado nacional precisará realizar em maquinário, inovação (pesquisa e desenvolvimento) e em profissionais capazes de fazer uma gestão mais eficiente, o governo também tem o dever de fazer sua parte, no sentido de reduzir a alta carga tributária que pesa sobre o setor, em disputa por mercado com produtos subsidiados pelo governo chinês. Fernando Pimentel, diretor-presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), afirma que o governo chinês dá subsídios de 80% na produção do algodão, impactando o valor de finalização dos têxteis. A concorrência se torna desleal.

Publicidade

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Roberto Proença de Macêdo, recentemente mencionou, durante o 1.º Seminário Internacional de Inovação Têxtil, que a entidade tem incentivado o investimento em inovação como forma de se contrapor aos desafios que têm se apresentado no mercado. Ele ainda ressaltou que o setor têxtil foi colocado como estratégico para o país, mas que esse avanço só se concretizará mediante ações no âmbito da inovação.

O desafio é grande, mas com certeza muitos empresários irão se entusiasmar com essa oportunidade. Afinal, se as indústrias brasileiras modernizarem suas fábricas, buscarem inovação tecnológica que trará maior eficiência produtiva, atraírem profissionais que busquem solucionar gargalos em processos e melhoria nas condições de trabalho e na preservação do meio ambiente, poderemos vislumbrar um futuro promissor, com ganhos na imagem das empresas e maior competitividade internacional.

Tais Cundari é vice-presidente e partner da Fesa, consultoria de busca e seleção de altos executivos.