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A rotina com crianças em casa é tão intensa que não são poucas as vezes que uma mãe acaba ficando o dia inteiro sem conversar com um único adulto
Imagem ilustrativa.| Foto: Alexander Dummer/Unsplash

A palavra pedagogia tem origem na Grécia, com a junção de “paidós” (criança) e “agodé” (condução), ou seja, aquele que conduz a criança. No entanto, essa ciência tem passado por grandes desafios. No último mês, tive dois encontros online com escolas de todo o Brasil que pedem socorro sobre o momento atual. Em grupos de WhatsApp, as queixas de escolas de todo o Brasil são constantes. Famílias ansiosas, profissionais despreparados, muita necessidade de inclusão, entre outras questões. Isso vem como reflexo dos desafios que enfrentamos como sociedade. Sempre digo que a escola é a sociedade da infância e percebemos isso no chão educacional diário. Os desafios estão tanto no lado da escola quanto na família.

Um dos desafios da escola diz respeito à precariedade na formação dos profissionais, e isso tanto pedagógica quanto emocionalmente. Os professores do futuro, que hoje estão nos bancos universitários, chegam à prática com lacunas a serem preenchidas. A educação a distância, ao mesmo tempo que possibilitou acesso a muitas pessoas ao ensino superior, chega a formar professores que nunca entraram em sala de aula. A boa escola, comprometida com seus profissionais, agrega a formação continuada por ter tal percepção e auxilia no desenvolvimento integral dos profissionais. Se preocupa com o clima institucional e acredita na potência da aprendizagem de todos.

Já em relação às famílias, o desafio é trabalhar com as particularidades que vêm de um contexto de muitos desejos e com dificuldade de colocar limites, confundindo papéis de adultos e crianças. A escola é o espaço em que o individual se encontra com o coletivo e a dificuldade de enlaçar esses dois contextos não é tarefa fácil.

Com tudo isso, hoje a escola precisa dar conta de situações que antigamente não competiam a ela - mas a única forma de continuar fazendo um bom trabalho é ajudar tanto os professores mais novos quanto as famílias a amadurecerem. A gestão escolar faz malabares diariamente…

A valorização da pedagogia precisa fazer por merecer: essa profissão que muitas vezes é considerada menos glamourosa que outras, precisa de atenção e respeito. Não que precisemos dar conta de tudo, mas o preparo, repertório e conhecimento precisam ser ainda mais desenvolvidos. Um bom pedagogo pode ser comparado a um médico, pois pode transformar a vida de pessoas. Já vi muitos casos de famílias que mudaram um estereótipo atribuído à sua criança graças à atuação de uma vida escolar positiva, capaz de mostrar a essa família verdades sobre ela, que muitas vezes nem mesmo a própria família enxerga.

Após quatro anos do início da pandemia da covid, paro para refletir se o caos atual tem relação com esse momento único na nossa vida. Um período marcado por situações como o excesso de telas intensificado nesse momento, o fechamento das escolas que impediu a socialização, o tempo de maior olhar para si mesmo (prova disso é o número de cosméticos que estourou nesse período), que representa um olhar para a individualidade e a valorização do tempo em família e dos prazeres ocasionados nesse momento. Podem ser devaneios pedagógicos, mas consigo ver relação.

Diante desses desafios, o primeiro alerta que dou às famílias e escolas é sobre unir forças e trabalhar juntas pelas crianças! A capacitação da escola para poder orientar as famílias é fundamental e o suporte de profissionais de apoio também. Não se pode delegar tudo para a escola. Precisamos de uma aldeia para educar uma criança. E nessa aldeia temos escola, família, governos e redes de apoio. Isso é grandioso!

Outro ponto crucial está nos pilares da formação da criança. Costumo dizer que a vida é como um grande prédio, e os pilares são construídos na infância, por isso o investimento na primeira infância é tão fundamental. Na teoria que construí sobre esses pilares, baseada no meu olhar de mais de 20 anos de educação e estudos teóricos e práticos, a base é formada por construção de autonomia, pensamento crítico, vínculo positivo com a aprendizagem e desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Esses pilares podem ser trabalhados tanto na escola quanto em casa, e, ao unirmos forças, a chance de as crianças evoluírem é muito significativa.

Um último ponto, especialmente para as famílias, é refletir sobre a retirada gradativa de telas. As crianças são seres extremamente criativos e ótimos pesquisadores, mas estão tendo seu potencial abafado por jogos e desenhos hipnotizantes que promovem lacunas no desenvolvimento infantil. O investimento na relação com os filhos é fundamental! Brincar, conversar, se relacionar é o básico, mas em muitos casos isso não acontece.

Vamos juntos trabalhar nessa aldeia chamada educação! Não existe “culpa da família” ou “culpa da escola”: é preciso juntar forças numa escola participativa e competente.

Marianna Canova é mestre em Educação e diretora do Peixinho Dourado Berçário e Educação Infantil e do Sementes Centro de Formação (e Transformação) Pedagógica, em Curitiba (PR).

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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