Muita coisa já foi falada contra e a favor de políticas desarmamentistas. Para quem é a favor da posse e do porte de armas, temos no Brasil Benedito Gomes Barbosa, a maior autoridade nesse sentido. Benê Barbosa não só é perito no assunto como também destrói, nos debates, seus oponentes; eles costumam ir armados apenas com as mesmas narrativas vazias, enquanto ele leva dados, estudos, estatísticas e experiência.
Como argumentos contrários temos os de sempre: “vai virar faroeste”, “vai ter morte no trânsito”, “armas não resolvem”, “o Brasil não tem cultura pra isso”, “as armas legais abastecem o crime”, “armas não impedem o crime”, “estar armado coloca a pessoa em risco”, “vão armar todo mundo” e tantos outros bordões repetitivos que já foram cansativamente desmentidos. Para isso, basta procurar as matérias ou os livros de Benê, ou de outros especialistas de fora do Brasil que escutam as mesmas ladainhas. Contudo, atrevo-me a abordar um outro aspecto dessa polêmica, pois os desarmamentistas vêm em vários tipos, alguns deles mais frequentes que outros.
Há, por exemplo, o sincero: o cidadão comum que não teve experiência com armas, é pacífico, acredita nas instituições estatais e que elas deveriam ser as únicas responsáveis pela segurança pública. Esse cidadão foi bombardeado com as narrativas desarmamentistas e teve pouco acesso aos argumentos pró-armas.
Temos, também, o seguro. Esse tipo normalmente é de classe alta, teme que cidadãos comuns possuam armas, o que poderia, em sua concepção, colocá-lo em risco maior. Esse tipo de pessoa se expõe a menos riscos que a maioria da população. Mora em condomínios ou áreas seguras, em locais com menor índice de criminalidade violenta, tem condições de possuir um veículo blindado ou seguranças particulares.
Esse desarmamentista existe em vários graus. Os mais “simples”, mesmo sem carro blindado e seguranças, costumam frequentar locais mais seguros e seu deslocamento também minimiza os riscos. Já os que estão no topo, utilizam tudo o que o dinheiro pode fornecer em matéria de segurança. Nesse seleto grupo muitas vezes estão os maiores desarmamentistas: políticos, grandes empresários e artistas. Vivem em uma bolha quase impenetrável e, quanto mais públicos são, maior o seu ativismo contra a posse e o porte de armas, pois cai muito bem no grupo que frequentam. “Menos armas, mais amor”, “menos armas, mais livros” e outras frases desconexas da realidade e utópicas estão no seu vocabulário. Quando ocorre algum ato chocante de violência (se estiverem atentos, acontece toda semana no Brasil), colocam uma camiseta (de grife) branca e abraçam uma praça.
Enquanto descrevo esse tipo, a pessoa que não me sai da cabeça é Luciano Huck em seu iate, passeando em Ilha Grande (RJ), ou em sua casa com muros altos, câmeras, segurança externa e interna, com a certeza de que a polícia chegará rápido se for acionada – não só ali, mas em todos os outros locais que ele e sua família frequentam.
O discurso “pró vida”, contra a violência, pelo amor, “pega” bonito. A hipocrisia pré-redes sociais ainda tem muita voz na mídia. A distância entre essas pessoas e o povo – e, por consequência, do mundo real – é abissal. Por isso elas não se arriscam em um debate. Ou o assunto gira em torno de um grupinho com as mesmas opiniões, ou eles mantêm o poder do microfone e de seu público cativo, se possível com uma vinheta de aplausos após suas falas.
Por fim, temos o covarde. Não me refiro a falta de coragem ou a avaliação de risco. O medo faz parte do ser humano, e na medida certa, tem a função de preservação da vida. O medo em excesso impede a reação e até a fuga, dando mais força ao predador. O tipo específico de covarde que quero citar é o covarde invejoso e/ou o covarde militante. Se o seu subconsciente falasse, diria algo assim: “Como ele ousa não se acovardar? Como ele ousa reagir? Como ele ousa expor assim a minha covardia?”. Sua covardia militante quer obrigar a todos que não reajam.
Ele, na verdade, não se importa com os riscos nem com todas as narrativas que prega, mas não admite que alguém reaja e mate o criminoso vítima da sociedade. Ele não se importa que criminosos tenham armas. Ele não se importa com traficantes desfilando com fuzis. Ele se importa que o cidadão comum seja capaz de se defender e tenha coragem para tanto. Ele se importa que um proprietário rural seja capaz de impedir uma invasão em suas terras.
E, na pior das hipóteses, ele se importa que, mesmo acreditando nisso tudo, caso um dia, hipoteticamente, seja vítima da violência, não tenha coragem para reagir, e assim, mesmo contra o que ele prega, ainda que subliminarmente, ficará exposto que ele escolheu deixar a família à própria sorte, ou aos cuidados do Estado, quem sabe à mercê da piedade das “vítimas da sociedade”.
Davidson Abreu, especialista em Segurança Pública e bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas, é oficial da Polícia Militar de São Paulo e autor de “Tolerância Zero”.
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