A questão social em Curitiba vem se deteriorando rapidamente em decorrência da crise econômica responsável pelo fechamento de milhares de postos de trabalho no Paraná. Grande parte dessa perda se concentra em Curitiba e na região metropolitana, que veem aumentar a população de rua e a violência urbana. Não bastasse toda essa situação de calamidade pública, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, em comum acordo com os empresários do transporte coletivo, encaminhou à Câmara Municipal projeto de lei que, se aprovado, desempregará 6 mil cobradores. A insensibilidade social é tamanha que isso é feito às vésperas do Natal, como presente de fim de ano para milhares de famílias.
O mais deprimente dessa medida é ver empresários e prefeitura justificarem tais demissões sob o argumento de que, implantando a bilhetagem eletrônica, serão evitados os assaltos no sistema de transporte coletivo. Escondem, assim, seus reais interesses: diminuir custos para aumentar os lucros das empresas. Nos parâmetros de custos do transporte coletivo de Curitiba, o item “pessoal” tem um peso de 45%. Desempregando-se 6 mil cobradores, esse custo de pessoal cai para 25%; logo, 20% a mais de lucro para os empresários, já que o projeto não trata da redução proporcional da tarifa de ônibus.
Os empresários que operam o sistema curitibano são os mesmos que operam o transporte coletivo da Região Metropolitana de Curitiba
Há dois anos, a Urbs eliminou a dupla função de motorista e cobrador dos ônibus da capital, eliminando custos, já que os motoristas tinham um porcentual a mais no seu salário devido ao acúmulo de função. Na época, a tarifa também não caiu, mas a experiência foi tão exitosa que agora prefeitura e empresários resolveram estendê-la a todo o sistema, sem nenhum benefício aos passageiros.
Os empresários que operam o sistema curitibano são os mesmos que operam o transporte coletivo da Região Metropolitana de Curitiba, onde implantaram com êxito a bilhetagem eletrônica com um sistema próprio, realizado por uma empresa criada por eles mesmos, a Metrocard, pela qual controlam diretamente toda a arrecadação. Em Curitiba, a arrecadação é feita pela Urbs, que remunera as empresas pelo serviço prestado, ficando em seu caixa com 4,5% do valor de cada bilhete, a título de taxa de administração. Com a experiência bem-sucedida da Metrocard, o próximo passo é retirar da Urbs esse serviço, passando o controle e arrecadação do transporte coletivo de Curitiba para os empresários.
O que temos visto desde o início do mandato de Rafael Greca, após aquele fatídico jantar no Country Club com o maior empresário do transporte coletivo de Curitiba, é uma série de benesses aos empresários, iniciando pelo aumento da tarifa para R$ 4,25, pagando aos empresários a tarifa técnica de R$ 3,96 e mantendo a diferença no Fundo da Urbs, que acumulou cerca de R$ 40 milhões. Em seguida, por um acordo entre prefeitura e empresários, foram retiradas todas as ações judiciais em tramitação, e eles se comprometeram a renovar a frota, que hoje tem 300 ônibus com vida útil vencida. A gritaria dos empresários que precisavam de recursos para a compra dos veículos foi resolvida com o prefeito, aumentando o valor da tarifa técnica de R$ 3,96 para R$ 4,25, esvaziando os cofres da Urbs, transferindo, com essa decisão, o dinheiro que os empresários pleiteavam.
A sociedade espera que o Ministério Público do Paraná, que ajuizou uma Ação Civil Pública contra os empresários por fraude na licitação de 2009, intervenha e evite mais essa ação danosa aos cofres do município, que agravará o desemprego e prejudicará milhares de usuários.
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