A discussão, iniciada nos anos 1970, sobre a necessidade de mudanças no modelo de desenvolvimento econômico adotado pelos países ao longo da primeira metade do século 20 resultou na inserção da dimensão ecológica nas decisões dos agentes econômicos e na proposta de desenvolvimento sustentável.
Contudo, a inserção da dimensão ecológica na discussão sobre o desenvolvimento econômico tem invocado a necessidade de uma profunda revisão nas teorias e nos modelos econômicos e, em última instância, no próprio ensino de Economia.
No entanto, quase 50 anos depois de ter sido iniciado esse debate, a formação da maioria dos economistas ainda está baseada em teorias e modelos que não incluem a dimensão ecológica e com pressupostos formulados no século 19 ou antes, que consideram, por exemplo, que o sistema natural é passivo e neutro, que não responde às intervenções. Isso significa que os economistas desconhecem o papel central que o sistema natural assume na dinâmica econômica, embora as notícias publicadas diariamente contradigam essa visão, e sem a qual não existiria o sistema econômico.
Se o leitor consultar os principais manuais de teoria econômica adotados por importantes cursos de Economia no Brasil e no exterior, verificará que o sistema econômico é considerado como se este fosse o todo, similar ao universo, como se não fizesse parte do sistema natural, ou seja, independente do sistema natural. Isso significa que o sistema econômico não precisaria de recursos naturais! Mas não é o sistema econômico que proporciona os bens e serviços demandados pela sociedade?
Tem sido ensinado ao futuro economista que o único resultado dos processos produtivos é o produto econômico, como se este não necessitasse de recursos naturais ou mesmo que o processo não gerasse resíduos (poluição). Por conseguinte, o economista não sabe desenvolver estudos econômicos que incluam de maneira adequada a dimensão ecológica, produzindo resultados equivocados ou distorcidos, que têm causado profundos prejuízos à sociedade. Como os modelos econômicos não reconhecem de maneira adequada a geração de resíduos na produção econômica, logo, pelo próprio crescimento econômico, a sociedade tem convivido com perdas irreversíveis. Recentemente a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um estudo revelando que 7 milhões de pessoas morreram em 2012 por doenças relacionadas à poluição atmosférica! Já imaginou o custo social e econômico do impacto causado pela poluição atmosférica?
A deficiência no ensino de Economia está muito evidente no grande debate que está sendo realizado entre importantes economistas nacionais e internacionais, a respeito do baixo crescimento econômico da economia brasileira registrado no período recente. As principais propostas apresentadas por esses economistas são construídas com base em modelos de crescimento cujas determinantes são apenas a expansão da mão de obra, a acumulação de capital e o desenvolvimento tecnológico. Como se apenas esses elementos pudessem explicar o desenvolvimento. Nesse sentido, de que adianta a disponibilidade desses elementos se não houver recursos naturais disponíveis em quantidade e qualidade suficientes? É possível produzir aço sem minério de ferro? Alimentos sem os nutrientes do solo ou água?
Embora o economista esteja no centro do debate sobre como operacionalizar o modelo de desenvolvimento sustentável e se isso é possível, nos cursos de Economia esta discussão está muito distante, para não falar ausente. No máximo, alguns cursos de Economia têm inserido esse debate como optativo em suas grades curriculares, como se fosse uma opção para o economista incluir ou não a dimensão ecológica em suas análises. Seria o mesmo que afirmar que é possível produzir bens econômicos apenas com mão de obra, capital e tecnologia; é possível?
Junior Ruiz Garcia, doutor em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente pelo Instituto de Economia da Unicamp, é professor do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Econômico do Departamento de Economia da UFPR.
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