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Desperdício e o “novo” modelo do sistema alimentar

 | Roberto Custódio/Arquivo Jornal de Londrina
(Foto: Roberto Custódio/Arquivo Jornal de Londrina)

O perverso sistema alimentar que conta agora com a fusão da grande Bayer com a gigantesca Monsanto viola os diretos de escolha e consumo de alimentos. As companhias irão despejar sobre o ser humano e o meio ambiente toneladas de retrocessos sobre a vida no planeta. No discurso da fusão das duas organizações, o argumento do lucro é evidente. Não há nada a poupar para que a gestão do capital continue nas mãos de poucos, e a falsa liberdade das nossas escolhas alimentares nos leva ao infortúnio desenvolvimentista que massacra e assassina milhões de pessoas, que iniciam o processo de perda de suas capacidades de vida ainda no ventre materno pela fome.

Com foco no aumento da disponibilidade alimentar, tem-se defendido um sistema de produção, distribuição e consumo desigual, injusto e inconsequente perante a saúde dos indivíduos, contribuindo para a permanência de inúmeras situações de fome no mundo e da violação aos direitos humanos.

Os que se alimentam todos os dias, em sua maioria, não têm autonomia para suas escolhas alimentares

Foi-nos prometido que a revolução tecnológica e industrial traria comida a todos, e que isso significaria melhor acesso em qualidade e quantidade. A fome é constante, e mata a cada minuto mais de dez pessoas no mundo. Uma conta que termina em 15 milhões de pessoas ao ano. Mas não é só de falta de comida que o perverso sistema alimentar mata. Ele nos oferece, de forma articulada aos interesses econômicos, grande quantidade de produtos industrializados que chamamos de comida. Que mata jovens vítimas do consumo alimentar numa proporção cada vez maior, por doenças relacionadas ao excesso de peso, à hipertensão, ao diabetes e a outras doenças cardiovasculares. E a falta de autonomia impera no cenário em que as empresas transnacionais desenham as escolhas alimentares para a humanidade.

Os que se alimentam todos os dias, em sua maioria, não têm autonomia para suas escolhas alimentares, porque estão cercados de produtos industrializados sem informação adequada sobre a qualidade – especialmente a qualidade nutricional – e origem de tais produtos. Entre os alimentos ditos in natura estão produtos repletos de agrotóxicos; entre os industrializados, muitos contêm ingredientes transgênicos.

Aspectos morais e éticos para esta e futuras gerações devem ser primordialmente estabelecidos no cenário do sistema alimentar, que compromete também a sustentabilidade no planeta, não acabando com a fome, e criando a fome de outros alimentos, aqueles estabelecidos pelo mercado.

O retrato do desperdício das capacidades humanas perante o sistema alimentar é o de um ser faminto, mesmo para aqueles que da comida se alimentam todos os dias. O modelo desta recente fusão industrial é o que molda o que a humanidade vem comendo e irá comer nas próximas décadas. Em termos práticos, o uso de agrotóxicos e sementes transgênicas estará agora acentuado, perpetuando-se entre as espécies do planeta. E as espécies que pretendem viver e se alimentar neste planeta talvez não tenham opção de escolha, ou liberdade para fazê-la.

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