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Desvalorização do professor, o maior limitador da nossa melhoria na educação

Nenhum país nutre tão profundo respeito aos mestres quanto o Japão. Senti-me privilegiado por conviver um fim de semana com 40 docentes nipônicos para uma troca de experiências. Eles dedicam dois turnos a uma única escola, onde lecionam, atendem os alunos, corrigem tarefas, preparam aulas e praticam esportes. Nesse nobilíssimo ambiente prevalece o respeito às normas, à hierarquia e, com a efetiva participação dos pais, tem-se uma boa rotina escolar. Professores e alunos têm em conjunto um almoço frugal na escola, feito por uma cozinheira e pedagogicamente louvável: não há inspetores, nem zeladoras. A limpeza dos pratos, talheres, pátios, salas, corredores é tarefa dos alunos e professores. Com autoestima elevada, dizem os mestres nipônicos que gozam da deferência da comunidade, recebem incentivos para viagens e são considerados "bons partidos" pelas moças casadouras pelos 40 dias de férias, emprego estável e por gostarem de crianças.

Embora discretos, verbalizam uma lamúria: o salário é aquém daquele dos engenheiros, médicos e executivos. Quem depende de aluguel em Tóquio compromete metade do holerite de US$ 4 mil.

Resgatar o prestígio e até o glamour da carreira do magistério no Brasil é o primeiro passo para uma significativa melhoria em nosso combalido sistema educacional. A desvalorização do professor é o principal limitador para que os nossos mais talentosos alunos abracem a sublime missão de legar uma geração melhor que a nossa. O reconhecimento advém necessariamente de uma postura modelar e profissionalismo do docente. E para esse mister há um axioma básico: aula a ser dada merece ser bem dada e, para tanto, bem preparada. Uma boa aula representa momentos de enlevo e de felicidade genuína – enfim, é uma excelente terapia para professores e alunos.

Após 43 anos vivenciando intensamente o ecossistema educacional em todos os níveis, permita-me um depoimento: reverencio profundamente cerca de dois terços dos nossos professores, pedagogos e gestores. Esses merecem um maior reconhecimento da sociedade, inclusive salarial. O outro terço, porém, compromete profundamente um bom trabalho pedagógico pelo desinteresse, corporativismo ou militância ideológica.

Reconhecidamente, parte das escolas padece do despreparo ou da falta de autonomia dos gestores. Para o educador José Pacheco, a crise do nosso ensino é mais abrangente, pois "é uma crise moral". Sim, a escola é um cadinho da sociedade onde ela está inserida. Notícia recente destaca que, das 30 cidades mais violentas do mundo, 11 são brasileiras. E não há como o espaço escolar ficar imune. Tabulou-se o questionário aplicado durante a Prova Brasil de 2011, aos alunos do 5.º ao 9.º ano em instituições públicas, e obteve-se um resultado horrendo: 4.195 professores foram agredidos fisicamente dentro dos colégios. A degradação de valores é sintomática quando se coteja o custo médio de um preso em uma penitenciária – R$ 1.887,80 – com o salário de R$ 1.044,94 de um professor com licenciatura plena, 20 horas semanais, recém-ingresso na carreira, como mostrou a Gazeta do Povo de 27 de janeiro. Um gap de 80% entre esses dois custos, isso no Paraná, e na maioria dos estados é ainda pior.

Retornando ao parágrafo inicial: no Japão, todos os súditos se inclinam ao saudar Sua Majestade. Menos o professor, sob a irretorquível premissa de que "não há um bom imperador sem bons professores". Já no exílio em Paris, o nosso dom Pedro II foi além: "Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro".

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