Há um afastamento da ciência com a religião. Tivemos no passado um caminho penoso, com perdas e conflitos de ambos os lados. A religião que estava acostumada em ser mestre das respostas abre espaço para outra instância, a ciência. A fé num Deus que não se vê se esvazia na crença de uma ciência que se vê e prova o que vê. Sem dúvida há um redirecionamento do sentido humano de buscar entender-se dentro do mundo em que se encontra.
Quando trazemos a discussão entre religião e ciência para um segundo olhar, mais recente, sem preconceitos, mas com abertura ao diálogo, temos a chance de encontrar uma aproximação possível. Se antes a religião havia se tornado absoluta nas suas respostas, outrora ocorreu o mesmo com a ciência.
Contudo, entendemos que ambas são meios e não fins. Entendemos também que nos seus meios elas caminham pelos mesmos lugares, mas possuem horizontes e interesses distintos. A resposta de uma não nega a intenção da outra, desde que não se queira ter uma resposta absoluta e cega.
Não é necessário nos dias atuais uma separação e um confronto. Ao contrário, urge, cada vez mais, o interesse por uma aproximação, um entendimento e um diálogo capaz de preencher lacunas existenciais na vida humana, que, apesar de todo avanço humano na busca do conhecimento e na busca pela verdade, ainda carecem de respostas: quem sou? De onde vim? Para onde vou? Por quê?... Por quê?... Por quê?...
Se o ser humano antigo encontrava respostas e fugas na religião, o ser humano moderno pode fazer o mesmo com a ciência. Se ainda hoje muitos se frustram por não encontrarem todas as respostas na ciência, o mesmo pode ocorrer na religião, quando esta carece de razão e aliena ou infantiliza. A religião e a ciência são esferas que podem caminhar juntas, até porque a religião precisará do conhecimento científico para se expressar no mundo atual e a ciência pode muito bem utilizar a inquietude humana, tão familiar nas religiões para persistir com suas buscas. No mais os interesses hoje se cruzam.
Se num passado tivemos conflitos (e não foram poucos) há que entendê-los a partir da visão de mundo particular de uma época, porém no momento atual isso não se faz necessário.
Em 2009 o mundo celebrou os 150 anos da obra de Charles Darwin sobre a evolução. Sabemos que no passado isso foi um ponto conflitante, mas hoje já não é mais. Acreditar que houve uma evolução no mundo não nega o que diz a religião, também não nega a existência de Deus. Ao contrário, fortalece a crença num Deus que cria e deixa a sua criação livre para seguir o seu curso. Entender isso mostra uma maturidade para a ciência, mas também para a religião.
Se hoje a ciência pode desvendar os segredos da origem do universo, em nenhum momento isso questiona e nega o que pregam as religiões no que diz respeito à tese de um Deus criador. Por muito tempo as religiões se preocuparam com curas e atenção aos doentes, hoje sabemos que a ciência nos presenteou com muitos avanços e explicações. O que devemos perguntar não é sobre o confronto, mas a quem elas servem e para que servem. A religião e a ciência terão a sua importância na sociedade desde que a partir delas se promovam a vida e a dignidade. Fazer isso é entender a ciência, fazer isso é entender o sentido da religião. Se formos capazes disso seremos capazes de entender o porquê da vida humana e o porquê de toda a criação.
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Cesar Kuzma, diretor e professor do Curso de Teologia da PUCPR.
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