Não conheço Carlos Ramalhete, raramente leio o que ele escreve e só tomei conhecimento de seu artigo que despertou o furor das redes sociais a respeito da adoção de crianças por casais homoafetivos quando a Gazeta do Povo me informou que adiaria a publicação de meu artigo de domingo passado para dar lugar a um entrechoque de opiniões a respeito do assunto dentro da redação.
Porém, nesse episódio, duas coisas me espantam: primeiro, a ligeireza com que um assunto da maior importância como o que motivou a coluna de Ramalhete está sendo tratado. Tudo está sendo levado em consideração, menos o bem-estar das crianças adotadas. E, segundo, a demonstração de truculência das tais redes sociais que, pelo volume das reações, pretendem intimidar aqueles que esposam ideias que as contrariem.
Primeiro ponto: quando se analisa a relação familiar de uma perspectiva que transcenda a mera convivência e a repartição de direitos patrimoniais entre dois adultos com capacidade de decidir autonomamente, como é o caso dos casais homoafetivos, uma família não é meramente uma instituição social. Nada impede que duas pessoas maiores decidam compartilhar sua vida afetiva e estabelecer relações claras de respeito de direitos e obrigações de cada parte. No entanto, quando se trata de filhos, há de considerar que estes são resultado de uma relação natural, ou seja, da complementariedade biológica entre homem e mulher que tem enormes repercussões na formação biopsíquica da criança. Tentar simplificar essa realidade, igualando esse relacionamento biológico complexo a um mero arranjo social em que dois adultos do mesmo sexo tentam reproduzir de alguma forma o relacionamento familiar tradicional (ou pior, inventar novas formas de tratar a criança) significa colocar em risco o bem-estar dessa última.
Não estou dizendo que esse novo tipo de relacionamento social seja, em si próprio, destrutivo; o que estou dizendo, com todas as letras, é que esse assunto é controverso demais para ser resolvido com a ligeireza com que está sendo tratado na imprensa e mesmo no Ministério Público e na Justiça. Só saberemos se a atual tendência de igualar as relações homoafetivas às familiares foi benéfica, neutra ou maléfica às crianças dentro de uma ou duas gerações. Então saberemos se os advogados das adoções homoafetivas foram precursores da mudança social ou se resolveram brincar de Deus às expensas das crianças.
Qualquer pessoa que tenha minimamente estudado a questão das crianças adotadas por casais heterossexuais conhece as complexidades psíquicas desse processo. Agora, multiplique-se por mil essas complicações e teremos um quadro realista do que pode acontecer nas adoções de casais homoafetivos. E não custa lembrar que a legislação brasileira (como, de resto, a legislação de praticamente todos os países civilizados) considera prioritariamente o interesse e o bem-estar da criança antes de qualquer outra preocupação com seus pais, naturais ou adotados.
O segundo ponto que causa espanto é a capacidade intimidatória das "redes sociais", que adoram rotular as opiniões que não agradem a seus membros de "fascistas" e "preconceituosas". Na realidade, se existe algo essencialmente fascista é o uso das massas para intimidar os adversários. Ao mobilizar as redes para boicotar escritores ou veículos, os supostos defensores da liberdade de opinião agem como as fasci di combatimmento e as Sturmabteilung, com a diferença (por enquanto) de que suas armas são a desmoralização pública e não o óleo de rícino e o porrete.
Não acompanho Facebook nem Twitter. Mas passei 40 anos sendo patrulhado por gente que não gosta de minhas opiniões e, portanto, já tenho o lombo curtido. Parafraseando alguém que disse que uma tolice dita por um gênio continua a ser uma tolice, com mais razão acredito que uma tolice endossada por milhares ou milhões de membros das tais "redes sociais" continua a ser uma tolice.
Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.
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