O número de diabete na população brasileira apresentado pelo governo em maio deste ano é menor que o mostrado no ano passado. De acordo com o Ministério da Saúde, 5,6% da população adulta do Brasil tem a doença, contra 6,3% registrados em 2011. Isso é um bom sinal ou é apenas uma queda aparente?
Infelizmente não acredito que possamos comemorar essa queda, já que ainda existem muitos pacientes diabéticos que desconhecem ser doentes por não terem realizado um simples exame de triagem como a glicemia de jejum. Portanto, o número é maior não só no Brasil, assim como em diversos outros países.
Na pesquisa do governo, o tipo 2 da doença apareceu em cerca de 90% dos diabéticos. E esse porcentual deve aumentar. Isso porque vêm crescendo a obesidade, o sedentarismo e a alimentação inadequada dos brasileiros. É só observarmos uma outra análise, divulgada em abril deste ano, pelo mesmo ministério, e que revelou que quase a metade da população brasileira está acima do peso. De acordo com o estudo, o porcentual passou de 42,7%, em 2006, para 48,5% em 2011. Neste mesmo período, a proporção de obesos subiu de 11,4% para 15,8%.
Por esse aumento de obesidade, imagino que logo teremos uma mudança de cenário em relação ao diabete no Brasil. Hoje a doença é mais comum entre os mais velhos, aparecendo em 21,6% das pessoas com mais de 65 anos, e em 15,2% das que têm entre 55 e 64. Mas, se continuarmos tendo problemas com alimentação, cada vez mais teremos casos entre os mais jovens.
Mas não podemos esquecer que nossa população vive cada vez mais e, desta forma, nosso contingente de idosos vai aumentar. Uma das consequências é o crescimento de doenças crônicas, como o diabete.
O governo detectou que o porcentual de adultos com diagnóstico de diabete é menor conforme o aumento do número de anos escolares. A suposição do ministério é que esta diferença se dá pela possibilidade de se adquirir hábitos mais saudáveis. Não acredito que possamos determinar esta como a causa.
Se fizermos um paralelo com os Estados Unidos, país onde o crescimento da obesidade e do diabete é assustador, inclusive na faixa etária de crianças e adolescentes, isso ocorre independentemente do fator escola. Lá, inclusive, o número de crianças e de adolescentes com diabete do tipo 2 (normalmente ligado à obesidade e ao sedentarismo) chega a ser igual àqueles com a doença do tipo 1. E isso ainda não aconteceu no Brasil.
Por fim, no meu papel de médico especializado nesta doença, lembro à população de 7,5 milhões de brasileiros diabéticos e aos prováveis outros milhares que têm a doença e ainda não a diagnosticaram: o diabete aumenta o risco de doenças do coração e do rim, pode levar à cegueira, amputação de membros inferiores, dentre vários outros males. As ações de prevenção à obesidade, o diagnóstico precoce, a adoção de hábitos saudáveis e o tratamento constante podem salvar a sua vida e devem ser seguidos.
Claudio de Lacerda é endocrinologista do Centro de Diabete Curitiba.