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Opinião do dia 1

Diamantes brutos

Se tivéssemos de escolher uma síntese para a escola que as­­piramos e per­­seguimos, ela está em Ortega y Gasset: "Deus nos dá a vida... mas não dá pronta..."

No último dia 26, o Centro de Educação João Paulo II, entidade sem fins lucrativos, completou seu primeiro mês de funcionamento. Depois de vários anos de sonho, três de projeto e um e meio de construção, o JoãoPaulo II abriu as portas no bairro de Laranjeiras, Piraquara, para receber 130 crianças que, no início do próximo ano, serão duzentas. As crianças de 3 a 6 anos estão matriculadas em tempo integral na escola in­­fantil do Centro, que não deve nada às de Primeiro Mundo: bonita, arejada, alegre, equipada com biblioteca, brinquedoteca, sala de dança e artes cênicas, sala de iniciação científica, quadras de esportes, material didático apropriado, computação e tudo o mais. As crianças de seis a dez anos, que frequentam a vizinha Es­­cola Mu­­nicipal Julia Wanderley, vêm diariamente para somar às suas atuais quatro horas de estudo, mais quatro horas, com acesso irrestrito às mesmas facilidades das crianças do ensino infantil. Tudo sem pagar um tostão.

O projeto educacional foi elaborado pelo Bom Jesus, um dos líderes da educação de qualidade no Brasil, e o SESI, com 70 anos de experiência de serviço comunitário, está se encarregando das oficinas de aprendizagem, de teatro, música e esportes. Tudo para propiciar a essas crianças de baixa renda o acesso a uma educação de alta qualidade, que até agora tem sido em nosso país, uma exceção notável. Em 26 de abril, o João Paulo II abriu as portas e, então, como o sopro divino transformou o barro no primeiro homem, o sopro de entusiasmo daquelas crianças injetaram alma naquela construção, linda e estimulante como tudo o que Manoel Coelho projeta, mas até então estéril. Crianças que são diamantes brutos, prontos para serem lapidados pelo processo educacional, e não destruídos por mãos inábeis e omissas.

Até agora, o projeto do Centro abalou algumas crenças bem enraizadas na cultura brasileira; uma delas, a mais recorrente, é a de que, diferentemente dos norte-americanos e europeus, os brasileiros não têm tradição de participar e contribuir para esse tipo de iniciativa. Muitos amigos nos alertaram para a dificuldade de obter doações exclusivamente privadas como fizemos e estamos fazendo. Estavam enganados: os R$ 1,7 milhão gastos na construção – foram integralmente custeados por doações de pessoas e empresas que entendem a universalização da educação de qualidade – é um imperativo que as elites políticas e sociais nunca enfrentaram com determinação durante toda nossa trajetória como nação. É claro que a missão de pedir que alguém meta a mão no bolso está longe de ser tarefa fácil e, como não podia deixar de ser, recebemos alguns cintos, ternos e CDs como resposta, como diria o colunista José Simão: uns "sinto muito", alguns "recebam meu terno abraço" e alguns secos "se deem por satisfeitos"... Mas, em número confortadoramente muito maior, tivemos o apoio concreto e a solidariedade efetiva de mais de 200 colaboradores, cujos nomes estão registrados na nossa placa de inauguração.

Agora vem a parte mais difícil, que é mobilizar os apoios financeiros para manter o Centro nos elevados níveis que nós próprios nos impusemos: queremos ser uma escola em que qualquer um de nós pudesse colocar seus filhos e netos sem hesitação, nem o sentimento de que estamos hipotecando seu futuro.

Se tivéssemos de escolher uma síntese para a escola que aspiramos e perseguimos, ela está em Ortega y Gasset: "Deus nos dá a vida... mas não dá pronta...". Entendemos que a missão do Centro de Educação João Paulo II é ajudar essas crianças a alcançar pela educação as riquezas e oportunidades que o destino lhes negou, a construir suas vidas.

Agora, resta torcer para que nosso guarda-roupa não cresça, nem nossa seleção musical seja reforçada...

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR e presidente do Centro de Educação João Paulo II.

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