Assisti – acredito eu, tão estupefato quanto todo o mundo – ao anúncio do presidente americano Donald Trump sobre a saída dos Estados Unidos do acordo climático de Paris. Menos de dois anos depois daquele encontro, no qual tive a honra de estar presente e que ficou conhecido como uma virada histórica na meta de reduzir o ritmo do aquecimento global, nos deparamos com o contrassenso de um líder que rejeita a posição mundial de alerta para a mudança nas políticas de emissão de gases poluentes.
Perplexos, nos deparamos com mais uma atitude extremista e maquiada pelo discurso nacionalista de Trump, mas é nas respostas a ela que vemos um contramovimento muito maior se formar.
No âmbito político, já é possível vê-lo perder na própria casa. Enaltecendo a vantagem do federalismo, governadores e prefeitos reforçaram seu posicionamento contra a decisão da Casa Branca. Entre o grupo de 12 governadores que assinaram um manifesto de boicote à saída do acordo sobre o clima, a Califórnia, já conhecida como polo das novas tecnologias, não só anunciou que vai reforçar as medidas para garantir o investimento em energia limpa, como fechou um acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia da China para desenvolvimento e comercialização de inteligência sobre captura e armazenamento de carbono, energia limpa e tecnologia avançada.
No viés empresarial, o Walmart, maior grupo varejista multinacional com sede nos Estados Unidos, reforçou a decisão de não comprar de produtores que apoiam as novas políticas ambientais de Trump.
Mesmo as grandes companhias do setor de energia se colocam a favor da mudança proposta pelo Acordo de Paris
Se a popularidade já não era seu ponto forte, mais uma vez as ruas de Nova York e Washington ficaram repletas de manifestantes que esbravejavam palavras de repúdio e insatisfação com a decisão do presidente.
Como se isso não bastasse para demonstrar o descontentamento geral, pasmem! Mesmo as grandes companhias do setor de energia, como ExxonMobil, Chevron e Shell, se colocam a favor da mudança proposta pelo Acordo de Paris.
Foram decisões extremas de um líder imediatista, dotado de um senso particular de inoportunidade e acentuada falta de habilidade política. Trump mais uma vez mostrou não se importar com a maturação do seu governo, antes mesmo de tomar medidas extremas que chocam o mundo e provocam reações também fora de casa. Pois nas outras nações o movimento de resposta foi rápido, quase instantâneo. Aproveitando o ensejo, a China anunciou a redução de suas termelétricas, ao passo que vai investir em fontes não poluidoras, como usinas nucleares. Houve também pronunciamentos de líderes da França, Alemanha e Inglaterra.
O recado da ONU foi dado ainda dias antes do pronunciamento de Trump. O secretário-geral, António Guterres, reforçou o futuro cinzento que aguarda aqueles que não se unirem à economia verde. Após a declaração do presidente, Guterres se manteve tranquilo ao afirmar que o acordo não está totalmente perdido, já que é possível fazer parcerias com os estados americanos, independentes nesse sentido. Ao avaliar todo o movimento que parece se estruturar, o futuro do líder americano será cinzento e solitário.
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As instituições de ensino têm um papel fundamental em formar alunos com uma nova visão mundial. É preciso entregar ao mundo não somente líderes, mas cidadãos que saibam associar competências técnicas a valores e que tenham uma visão voltada para o compromisso com as futuras gerações, empenhados em tornar o mundo mais justo, ético e ambientalmente responsável.
Para usar dos clichês e lembrar que toda ação tem uma reação de igual ou maior intensidade, espero que a resposta do mundo diante de tal atitude do governo americano seja muito mais forte e significativa, como uma onda na qual mesmo aqueles que não desejam nadar acabem levados pela corrente do bem. E que essa voz nacionalista reacionária seja abafada por um movimento global unificado em prol de mudanças positivas para o futuro das novas gerações.
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