Amigos, quem vos escreve é um patriota. Brasileiro que se tornou mais patriota ainda quando viajou pelo exterior pela primeira vez. Quando dizia que era brasileiro, percebia às vezes desdém, às vezes desconfiança e, com muita boa vontade do interlocutor, alguma referência ao futebol. Engraçado, mas a soberba dos "primeiro-mundistas" fez com que eu amasse mais o meu país. Fico, portanto, à vontade para falar sobre o caso Diego Costa.
Espécie de Dom Quixote esportivo, sempre fui contrário à ideia de jogadores e treinadores brasileiros defenderem outras seleções. Tolero, apenas, que serviços verde-amarelos sejam prestados a nações de futebol incipiente, como as do Oriente Médio.
O primeiro grande drama hamletiano envolvendo o tema se deu na Copa do Mundo de 70. Didi, craque brasileiro bicampeão do mundo, era treinador da seleção do Peru. O "Príncipe Etíope", quando aceitou o cargo, jamais imaginou que enfrentaria a camisa que tanto honrou nas quartas de final, no México. "O pior momento daquela partida foi a hora em que o Hino Nacional foi executado. Eu fiquei paralisado, com a boca seca, imaginando que estava com a camisa 8 do Brasil. Pensava se os brasileiros iriam me chamar de traidor, caso o Peru vencesse, e os peruanos poderiam pensar que eu facilitaria a vitória do Brasil", relembrava o saudoso Didi.
Ora, veja. Esse sentimento não transpareceu nos olhos e na atitude de Felipão quando rejeitou continuar na seleção pátria após o título de 2002, preferindo aceitar o convite da seleção de Portugal. Scolari não se limitou a fazer seu trabalho, mas, em gíria de nossos dias, "pagou uma de português". É, o gaúcho apelou para a versão além-mar da "pátria de chuteiras". Enfrentou o Brasil duas vezes, ganhou ambas (fez o que quem pagava seu salário esperava), mas chamou a atenção, à época, a gana scolariana e a voracidade de seus comandados quando enfrentaram o Brasil. Parece que, nos vestiários, o treinador havia dito algo como "Eu, o Deco, o Pepe nascemos no Brasil e vamos dar a vida para ganhar. Imagino o que não farão vocês, que nasceram em Portugal..."
Ao contrário do criticado Diego Costa, Scolari fez fama no Brasil. Conquistou títulos em vários clubes e chegou à seleção. Ao choramingar a escolha de Diego Costa pela Espanha, o treinador se esquece do próprio passado. O pecado dele, Felipão, foi maior. Ele teve todas as chances no Brasil e se bandeou para Portugal. Fosse o Brasil um país com dirigentes altivos, jamais voltaria a dirigir a seleção.
O sergipano Diego Costa viu no futebol a chance de mudar de vida. Nasceu aqui e sentiu em tenra idade a maneira pela qual os pobres são tratados por aqui. Saiu muito cedo do Brasil para tentar a sorte no humilde Sporting de Braga, em Portugal. Contratado pelo Atlético de Madrid, foi logo emprestado para clubes pequenos da Espanha. Voltou ao time da capital e tem feito sucesso.
Com a canela de vidro de Fred e, principalmente, o medo de ver um brasileiro roubar a cena na Copa em nosso país, graças à entrosada seleção espanhola, Felipão o convocou. Mesmo sendo brasileiro, com muito orgulho e muito amor, eu, no lugar dele, teria feito, talvez, a mesma escolha.
Má educação à parte ao responder a uma pergunta de Sergio Rangel, da Folha de S.Paulo, que refrescou a memória de Scolari sobre sua fase lusitana, Felipão, por dentro, deve estar aliviado. Acho que Diego não tem essa bola toda para ser protagonista na Copa do Mundo. Mas, se der zebra, o treinador pode se eximir. Afinal, "eu chamei, mas ele não quis".
Roberto Zanin é jornalista e autor do blog robertozanin.com
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