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A sociologia é a ciência que se propõe a obter conhecimento científico dos fatos sociais, pela aplicação do método de investigação dos fatos que compõem as relações ocorridas na sociedade. É talvez a mais nova entre as ciências sociais, e se firmou como tal no século 19, especialmente com Émile Durkheim (1858-1917), Max Weber (1864-1920), Karl Marx (1818-1883) entre outros.
O que dá o caráter de ciência ao conhecimento é a procura de explicações e leis válidas para o objeto de estudo com obediência aos procedimentos do método científico, sem a influência da religião ou opiniões prévias formadas por ideologias ou crenças culturais. Antes de a sociologia se firmar como ciência, já se estudavam as relações sociais, porém a determinação de lhe dar caráter científico, como vinha ocorrendo com sucesso nas ciências naturais, não tem mais que 150 anos.
A essência do método científico é o respeito e a aplicação dos procedimentos da técnica de investigação e o cumprimento de suas regras, com a ausência de pré-juízo e pré-crença, e descrição precisa dos resultados obtidos, mesmo quando contrariem a vontade prévia do pesquisador. Quando um biólogo pesquisa um vírus, ele não tem ódio nem amor nem qualquer opinião a respeito do objeto estudado: ele simplesmente constata.
O método científico, não custa repetir, foi resumido de forma brilhante por Galileu Galilei (1564-1642) e consiste em quatro passos: (1) observar um fato concreto; (2) formular uma pergunta sobre o fato observado; (3) elaborar uma hipótese, ou seja, uma resposta à pergunta; (4) executar experimentos válidos e controlados para confirmar ou negar a hipótese elaborada.
Antes do conhecimento resultante do trabalho de pesquisa, tudo o que podemos obter sobre o objeto são hipóteses, teses fracas (hipo = fraco). Um dos dilemas da sociologia atual é a proliferação de “cientistas sociais” que estudam um fato social com opinião já formada. Ou seja, são crentes em busca de fatos que corroborem suas crenças, postura que compromete a imparcialidade do estudo e da aplicação do método científico.
É por isso que há quem julgue ser impróprio atribuir o título de “sociólogo” a Karl Marx, pois ele teria desenvolvido suas teses sociológicas estando firmemente convicto de que todas as relações sociais derivam das relações materiais. Marx tinha fixação na “mercadoria”. Para ele, os fatos sociais resultavam do materialismo e a sociedade estaria forjada no desequilíbrio de poder entre capitalistas e trabalhadores, logo a essência da vida era o conflito de classes. Foi com essa convicção que ele construiu sua teoria política sociológica.
Ocorre que as teorias econômicas e sociológicas de Marx foram pensadas, segundo ele próprio, sob a realidade da Inglaterra, e esta já havia atingido elevado grau de desenvolvimento capitalista. Marx não imaginava suas análises e propostas para um país rural e pobre, como era a Rússia, mas foi onde houve a revolução marxista-leninista, que começou em 1905 e se consolidou a partir de 1917.
Embora o comunismo no estilo União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) tenha sua derrocada em 1990, pensadores marxistas já reconheciam, desde os anos 1960, as falhas da economia e da sociologia marxista no “socialismo real”, que, nas sete décadas de sua vigência, cobrou o extermínio de no mínimo 100 milhões de vidas.
Quanto à economia totalmente estatizada, Ludwig von Mises já havia explicado, em 1920, que sem mercado não há preço, sem preço não há cálculo de preço, logo não há como planejar e conduzir as trocas de bens e serviços. O problema do cálculo econômico é uma crítica ao uso de uma economia planejada em substituição ao mercado na alocação dos fatores de produção.
Entre os dilemas da sociologia está seu uso por pretensos cientistas que, tendo convicção prévia, ajustam suas pesquisas a fim de que elas confirmem suas ideologias e crenças existentes antes do processo investigativo. Dizem que, quando lhe afirmaram que na Rússia rural não havia uma classe operária em nome da qual a revolução seria feita, Lênin teria respondido: “A revolução criará a classe em nome da qual a revolução será feita”. Ou seja, cria-se uma tese, depois montam-se os cenários onde a tese se realiza, ou seja, é o fim da isenção e da imparcialidade. É o fim da ciência.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.