A melhoria do padrão de bem-estar médio da população exige que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça mais que o aumento dos habitantes. Isso só é possível pelo aumento do número de pessoas trabalhando e/ou pelo aumento da produtividade (maior produto por hora de trabalho).
Como o primeiro caminho conseguir mais pessoas para trabalhar depende, quase sempre, do aumento da população, o mais adequado é o aumento da produtividade. A produtividade é um tema muito badalado em discursos de economistas, políticos e empresários. Trata-se de um consenso. Logo, todos deveriam tentar produzir mais por hora de trabalho. Esse objetivo, entretanto, requer disciplina e boa gestão do tempo.
Na vida dos gerentes e dos executivos, o uso de seu próprio tempo é assunto muito mal resolvido. Ser disciplinado e cumpridor de horários, sobretudo em reuniões, palestras e seminários, é algo quase impossível. A relação do brasileiro com horários é péssima, faz todos trabalharem mais que o necessário para produzir o mesmo e prejudica muito a produtividade-hora do trabalho.
Daria para produzir mais trabalhando menos se tivéssemos um pouco de "alemão" em nossa forma de tratar o tempo e os horários. Fiz um curso de um mês na Alemanha, cujo programa implicava várias visitas e entrevistas. Em todas, terminado o horário agendado, o anfitrião levantava e gentilmente abria a porta para eu sair. Em uma festa de aniversário marcada das 18 às 20 horas, o aniversariante desligou o som exatamente às 20 horas, agradeceu aos presentes e foi à porta despedir-se dos convidados.
A produtividade não diz respeito apenas ao produto do trabalho nas fábricas e nas linhas de montagem. Depende, também, do rendimento dos prestadores de serviços, dos autônomos, dos executivos, dos gerentes e dos técnicos. A indisciplina por aqui é tão grande que um pouco de ordem, respeito ao tempo, cumprimento de horários e organização levariam ao aumento da produtividade do trabalho nas áreas de administração, de gerência e nos eventos públicos.
A tolerância com a indisciplina deriva, em parte, da dificuldade de medir o produto do trabalho que não gera peças físicas. Em uma fábrica de camisas, o número de unidades produzidas por operário é contável e comparável com a produção de outros operários. Já em um escritório, a produção não é tão facilmente mensurável, tornando-se mais complexo julgar a produtividade de um funcionário. Um executivo que passa 12 horas em reuniões pode parecer muito produtivo, quando ele pode ser apenas desorganizado e indisciplinado, consumindo mais tempo que o necessário em suas tarefas.
Quanto aos seminários e aos congressos, raros são os que começam no horário e cujos palestrantes obedecem ao tempo determinado. Mais raro ainda é achar quem fique constrangido por estourar o tempo que lhe é dado. Na Alemanha, me pus a observar os trens saírem, na mesma plataforma, de dois em dois minutos. Fiquei pensando: o que seria se os maquinistas desses trens se comportassem como os executivos e os palestrantes brasileiros? Certamente, seria o maior caos.
Não precisamos nos tornar alemães, mas um pouco menos de bagunça na gestão do tempo e um pouco mais de respeito aos horários previamente combinados fariam um bem enorme à produtividade e deixariam mais tempo para fazermos outras coisas.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.