Quem falou que a ditadura foi branda agora diz: ditadura, adeus!

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Cansei de ouvir falar da ditadura, enjoei de tantas lamúrias, lições, mesas-redondas, seminários, comissões da meia verdade, memórias, rituais de flagelação, chega! Não quero mais participar de coletâneas sobre a ditadura, livros chupins a sugar o mesmo sangue seco após meio século!

Aliás, depois de tantos eventos comemorando os 50 anos da ditadura (parece até que sentem saudade!), será que ano que vem haverá a comemoração dos 51 anos? Sugestão de slogan: 51 anos – um porre de ditadura! Sim, para quem morreu ou sofreu, não podia ser pior; mas, meio século depois, será que já não aprendemos o que era preciso aprender? Até quando irá essa ladainha masoquista?

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Certo é que, se a direita tivesse aberto seus porões de memórias e seus arquivos de documentos, a esquerda não teria mais o que fazer além de entender que a anistia foi para os dois lados. Mas, se quiser insistir, então vamos investigar também os crimes da esquerda, não? Ah, não, isso a esquerda não quer, porque age exatamente como a direita. Sugestão de tema para mesas-redondas: "Esquerdireita, irmãs siamesas, inversamente iguais". Nessa mesa, eu gostaria de dizer algumas coisas.

A direita usou todos os meios para se manter no poder, depois de gerar 200 milhões de mortos no século 19 com sua guerras coloniais, desastres econômicos e massacres. A esquerda usou de todos os meios ("os fins justificam os meios", né, conforme Lenin) para chegar ao poder, daí gerando as guerras civis e massacres que geraram também 200 milhões de mortos no século 20.

Nos regimes de direita, uma elite mandava e o povo sofria, exatamente como nos regimes de esquerda.

A direita repudiava empreendedorismo, inovação, democracia, cogestão, cooperativismo, exatamente como a esquerda.

Fui comunista e hoje social-democrata, embora lamentando que o mensalão tenha começado no governo FHC, quando se descobriu que é possível comprar deputados em massa. Fui fã de Luiz Carlos Prestes e da Coluna Prestes, que hoje vejo como um fracasso político e militar. E lamento que, depois, Prestes tenha se tornado comunista, manietando-se à União Soviética, tanto que sua Olga Prestes era agente soviética encarregada de monitorar o líder brasileiro – está na sua biografia.

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Fui fã de Guevara, chorei lendo seu Diário da Guerrilha, que reli duas décadas depois, já usando os próprios olhos e não os óculos da ideologia, e... vi que ele andava em círculos na selva boliviana; surpreendente é que não tenha sido morto antes! Foi administrador incompetente em Cuba. Tentou transplantar mecanicamente o modelo da guerrilha cubana no Congo e na Bolívia, pagando com a vida esse aventureirismo. Comandou pelotões de fuzilamento em Cuba não porque era preciso, mas porque gostava de matar, em nome, claro, das melhores intenções. Um psicopata. Mas um ótimo criador de frases de efeito, por isso anda estampado em tantas camisetas. Mas Harvard e Oxford também estão em tantas camisetas...

Que teria acontecido com o Brasil se os militares não tivessem implantado sua ditadura? Teríamos virado uma imensa Cuba a distribuir miséria? Ou seríamos hoje uma China a concentrar riqueza para poucos e trabalho sem direitos trabalhistas para muitos? Ou, talvez, nos tornássemos uma Rússia ninho de máfias? E seríamos dirigidos por José Dirceu e José Genoino, em nome dos Josés do povo...

Na África do Sul, o Apartheid acabou quando negros e brancos confessaram seus crimes e se pediram desculpas. Aqui, a direita continua rancorosamente defensiva enquanto a esquerda continua rancorosamente vingativa. Duas perdedoras históricas, ainda não se deram conta de que, com o Muro de Berlim, caíram o socialismo autoritário e também o capitalismo selvagem. Para continuar, o capitalismo se socializa, enquanto o socialismo vai morrendo em Cuba e na Coreia do Norte, hipocritamente (e temporariamente) se capitalizando na China.

Enquanto isso, as cooperativas, modelo de social-democracia, continuam prosperando e avançando, apesar de fracassos eventuais devidos aos mesmos vícios e erros do socialismo e do capitalismo: traição da democracia, cultivo de privilégios e administração centralizada e ineficaz.

Mas a esperança é tipicamente humana: nem esquerda, nem direita. Brasil, em frente!

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Domingos Pellegrini é escritor.

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