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Nas últimas semanas, uma ideia apresentada pelo grupo de transição do governo eleito vem causando apreensão no setor agropecuário brasileiro. Trata-se do desmembramento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de atividades relacionadas com a agricultura familiar. Para tanto sugerem a criação de um ministério específico, medida que além de onerosa irá gerar ineficiências em um setor que representa mais de 25% do PIB brasileiro.
Ao contrário do que defendem os proponentes, fatiar o Mapa em dois ou três – com a inclusão, no pacote, de mais um novo ministério, o da Pesca –, seria extremamente prejudicial para o futuro da agricultura familiar, atividade que engloba 77% das propriedades rurais do país de acordo com o último censo agropecuário do IBGE. Significaria quebrar elos importantes que unem as diversas cadeias produtivas no agro, e que viabilizam a integração entre os pequenos produtores e a cadeia produtiva.
A integração existente gera um desenvolvimento mais sustentável e cada vez menos dependente de ajuda governamental, principalmente no que se refere a ganhos de produtividade e acesso às tecnologias de ponta. Vale ressaltar a grande relevância na agregação de valor para os pequenos agricultores de cooperativas agrícolas como Cocamar, Aurora, Coamo, C. Vale e Comigo, conquistada em grande medida em função dessa integração.
Na prática, a simbiose entre a agricultura familiar e a cadeia produtiva do agronegócio favorece a produção agroindustrial eficiente no Brasil. Para exemplificar, a avicultura e a suinocultura são mais competitivas, interna e externamente, em função do baixo preço dos insumos. O milho e a soja, utilizados na alimentação de porcos e frangos, são extremamente acessíveis no Brasil graças à competitividade do agroexportador, que gera divisas e impulsiona igualmente a prosperidade dos pequenos criadores de aves e suínos.
Hoje, o Ministério da Agricultura é interligado com vários ministérios, como o do Meio Ambiente, para questões de sustentabilidade; Infraestrutura, para buscar soluções de logística; Relações Exteriores para abrir mercados e defender interesses comerciais; Minas e Energia para fertilizantes e biocombustíveis; e Economia. Uma eventual divisão põe a perder esse entrosamento, atingido ao longo de anos e de importância fundamental.
A prática vigente e a realidade em países de porte comparável ao do Brasil mostra que só há um setor agropecuário. Dividir o Mapa em governanças separadas para um só fim fragiliza, entre outros aspectos, a capacidade do país de fornecer alimentos e energias mais baratas e sustentáveis. Seria prejudicial ao Brasil, que precisa estar cada vez mais unido no sentido de gerar riqueza e bem-estar social.
A agricultura brasileira é uma só.
Jacyr Costa Filho é presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e sócio da Consultoria Agroadvice.