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Djokovic, ômicron, testes e vacinas

(Foto: Pixabay)

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Um grande amigo, ao desejar um feliz 2022, me falou: “que seja melhorzinho”! Para os primeiros dez dias, parece que nem sequer melhorzinho ele começa. Na segunda-feira, 27 de dezembro, a central de testagem do IBMP, que ao longo de toda a pandemia já realizou mais de 3,3 milhões de PCR Covid-19 para o SUS, recebeu cerca de 1,5 mil amostras, todas do Paraná, com índice de positividade em 2%. Na sexta-feira passada, 7 de janeiro, exatamente 11 dias depois, recebeu 10.027 amostras, com positividade para as amostras de Curitiba em 34% e, na média do estado, 24%. No mundo, os recordes de casos positivos são batidos, também muito em decorrência da maior capacidade de testagem global, sendo a ômicron a protagonista.

Até o momento não temos a efetiva confirmação da variante ômicron em nosso estado, mediante sequenciamento do vírus. Nesta semana a Fiocruz-PR deve informar resultados sobre amostras sequenciadas colhidas na semana pós-natal. Nenhuma surpresa se a variante já for plenamente dominante não apenas no Paraná, como em todo o país.

E mais uma vez o Brasil ficou no camarote, vendo tudo acontecer antes em outros países, desde novembro com o relato da nova cepa na África do Sul. Com a exceção da cepa gama e da crise em Manaus, todas as demais ondas foram anunciadas ao Brasil com antecedência. Houve medidas de vigilância diferenciadas e antecipadas? Não! No período, também se perdeu tempo com o tema das vacinas para as crianças, retardando o óbvio!

Houve medidas de vigilância diferenciadas e antecipadas? Não! No período, também se perdeu tempo com o tema das vacinas para as crianças, retardando o óbvio! 

A ômicron traz um poder de transmissão sem igual, combinado com o máximo relaxamento das medidas de proteção e com todos os encontros realizados nas festas de fim de ano, férias etc. A menor severidade da ômicron é o que resta de bom em todo o contexto. Grande quantidade de casos assintomáticos, parte com sintomas leves, mas já indicando aumento preocupante da demanda por serviços de saúde e hospitalizações, embora potencialmente provocando baixa letalidade. Mas essas características não podem nos acomodar diante de potencial novo colapso nos serviços de saúde. Aqui a vacina cumpre seu papel.

Mas chegou o momento em que outro surto, de influenza, está afetando serviços, com muitos infectados e mesmo algumas mortes. Nesse contexto, profissionais de saúde também são afastados dos serviços igualmente, seja pela Covid, seja pela gripe, além de ser comum termos maior número de profissionais em férias no início do ano. A combinação de fatores tem quase o formato de uma nova tempestade!

Sabidamente, a vacinação atenua, e muito, os efeitos da ômicron. Depois de longo percurso o país alcança importante padrão de vacinação, com mais de 67% com o esquema completo, na média nacional. No Paraná estamos um pouco acima, praticamente em 70%. Mesmo depois do esforço nacional para garantir vacinas, com o papel fundamental da Fiocruz e do Butantan, voltamos agora com o debate sobre vacinar ou não as crianças. Novamente venceram a ciência e os princípios civilizatórios. Com atraso, a despeito da clara autorização da Anvisa desde 16 de dezembro, nesta semana começa a vacinação das crianças. Nunca é demais repetir que vacina é uma ação de saúde pública, ou seja, não é apenas quem toma a vacina que se protege, é a coletividade que fica mais segura. Com as crianças, o índice de vacinação da população deve se aproximar a 85% a 90% do total da população. Crianças vacinadas e todos mais protegidos.

O que temos pela frente? Reforçar as medidas protetivas, como máscaras, higienização e evitar aglomerações. A retomada de eventos, festas etc. fica para mais à frente. Mas não adianta suspender o carnaval se as famílias e amigos aproveitarem para fazer encontros, almoços, churrascos, festas particulares. Essas “pequenas aglomerações”, supostamente protegidas, têm se mostrado de elevado risco. São ambientes de relaxamento total, todos sem máscaras! A ômicron está se transmitindo “quase por pensamento”!

A vigilância precisa ser reforçada em cada município e o principal instrumento segue sendo a testagem. Mais do que nunca, testagem com acesso a todos. Não se pode testar apenas sintomáticos. A característica da ômicron, com predominância de assintomáticos e sintomas leves, exige testagem massiva e repetidas vezes. É momento de o país ter autotestes – testes rápidos com resultados em 15 minutos – sendo vendidos em supermercados e farmácias. A Anvisa ainda não autorizou tais testes, comuns mundo afora. O IBMP está em vias de solicitar essa autorização para os seus testes, mas a Anvisa precisaria reconsiderar suas normativas. Claro, os testes PCR continuam, e cada vez mais os testes rápidos – ofertados em postos de saúde, farmácias, laboratórios, drives-thru, terminais de ônibus e aeroportos – precisam ser mais e mais acessíveis pelo SUS, que precisa estar abastecido com dezenas de milhões desses testes, de fácil utilização. A Fiocruz tem participado do esforço de testagem, e entregou ao Ministério da Saúde cerca de 50 milhões de testes rápidos, por meio da Bio-Manguinhos e do IBMP, com capacidade para seguir e mesmo aumentar o ritmo das entregas.

Em 2022 seguramente falaremos ainda das novas campanhas de vacinação, tanto para influenza quanto para Covid. Enquanto isso, globalmente, seguimos com absurda desigualdade no acesso às vacinas. Há países com excesso de doses e grupos antivacina resistentes, como nos EUA e em países da Europa, enquanto outras nações têm índices baixíssimos de cobertura por escassez de doses e descaso dos países desenvolvidos. E o vírus continua circulando, passível de novas mutações, além das mortes e hospitalizações que seguem.

Para finalizar, sobre o caso de Novak Djokovic, que papelão e um péssimo exemplo, para o esporte e para todo o mundo; simples assim!

Pedro Ribeiro Barbosa é diretor-presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP).

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