O ensino de modo geral vem apresentando inegáveis mudanças. O conhecimento antes obtido em aulas ministradas por professores donos do saber, dispostos em amplos anfiteatros com púlpitos, isolando-os de seus alunos, restou como imagem do passado. O conhecimento passou a estar disponível e atualizado instantaneamente na tela de um computador. A necessidade de introduzirem-se métodos de ensino e aprendizagem que vão muito além da esfera cognitiva tornou-se imperiosa. A forma de captação do conhecimento pelo aprendiz deve, em sua excelência, atingir o “aprender-fazendo”. Neste sentido, na área da saúde novas formas de ensino-aprendizagem inovam no sentido de estruturarem-se baseadas em evidências da prática assistencial a partir de casos concretos, além de permitirem o feedback imediato ao estudante, contribuição essencial da transmissão de experiências dos docentes. A interação presencial do aluno é uma das pedras basilares do aprendizado.
Pari e passu, as diretrizes curriculares dos cursos da área da saúde, como Medicina, Odontologia, Farmácia, Enfermagem, Nutrição e Terapia Ocupacional, promulgam a necessidade não só da adoção de metodologias ativas de ensino, como da participação efetiva do estudante na comunidade. O ensino deve concentrar-se no entendimento dos problemas de saúde mais comuns, enfatizando o diagnóstico, o tratamento, bem como a prevenção e promoção da saúde. Ao mestre cabe demonstrar o melhor caminho das práticas em saúde e, ao estudante, alicerçar o seu saber a partir de conhecimentos teóricos previamente disponibilizados e adquirindo a prática a partir da observação e interação com a comunidade, mediada pela intervenção do professor.
As restrições da pandemia da Covid-19 relacionadas ao distanciamento social precipitaram o desenvolvimento de ações primordialmente relacionadas à transferência do conhecimento teórico por mídias digitais, diminuindo as concentrações de alunos em anfiteatros ou salas de aula. É um fenômeno mundial que se coaduna com os preceitos das novas metodologias de ensino, mas inexistem evidências de que o contato pessoal com o paciente possa ser substituído. Não há como se obter à distância habilidades e competências para a prática em saúde que premiem a elaboração de uma minuciosa anamnese, a prática da semiologia, e ao desenvolvimento do raciocínio clínico. Como já bem demonstrado, por mais bem elaborada que seja a gravação de uma aula, de um exame ou procedimento, passados poucos minutos a atenção do aprendiz desvanece e o conhecimento se perde. No ensino da medicina e demais áreas da saúde, o aluno junto ao paciente, e com a presença do professor ou tutor lado a lado, ainda não há como ser substituído.
A modalidade de ensino EAD, com aulas práticas longe dos laboratórios, ambulatórios assistenciais, centros de saúde e hospitais, tornam o aprendiz distante de obter habilidades que lhe permitam atingir os marcos de competência necessários para a boa e segura prática em saúde. Para a medicina e ciências afins, vislumbramos que a adoção da tecnologia de comunicação não solucionaria a atual dificuldade do ensino presencial, e sim ensejaria a possibilidade da criação de um distanciamento assistencial, evoluindo no futuro para um abismo intransponível no aprendizado do atendimento humanitário.
Finalizo reproduzindo as palavras do renomado médico e educador Willian Osler: “A medicina é aprendida à beira do leito e não nos anfiteatros”. E, dentro da linha que norteia este parecer, acrescento outro grande ensinamento por ele legado: “No que pode ser denominado método natural de ensino, o aluno inicia-se com o paciente, continua com o paciente e finaliza seus estudos com o paciente, utilizando-se de livros e de leituras apenas como ferramentas, como meios para uma finalidade”.
*Edson Luiz Almeida Tizzot é conselheiro do CRM-PR, professor associado do curso de Medicina da UFPR e membro titular da Academia Paranaense de Medicina.
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