Pelo equilíbrio macroeconômico, podemos afirmar que o Brasil está preparado para enfrentar uma nova crise internacional se comparamos com outros países. Mas isso não quer dizer que o país esteja imune às insta­­bilidades da economia internacional

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Nas últimas semanas, o cenário econômico mundial tornou-se muito mais nebuloso. As crescentes dificuldades financeiras dos países europeus aliados as divergências políticas nos Estados Unidos em relação à administração da dívida pública contribuíram para o agravamento do quadro de incertezas. Com isso, podemos afirmar claramente que o estado de confiança dos agentes econômicos e financeiros deteriorou-se. Mas qual a importância desse estado de confiança para o funcionamento da economia? Ele está baseado nas crenças de que o mercado tem em relação à suas projeções futuras da economia, determinando em grande medida novos investimentos, expansão do crédito e o crescimento econômico a partir de fatores econômicos, políticos, psicológicos e históricos.

Infelizmente, o rebaixamento do rating dos títulos públicos norte-americanos abalou as expectativas dos agentes em relação ao futuro da economia mundial e, neste sentido, dois cenários macroeconômicos estão se formando. O primeiro indica uma nova recessão, o famoso double dip (queda dupla), como ocorreu na Grande Depressão dos anos 1930. E o segundo indica uma lenta recuperação da economia dos EUA para, pelo menos, nos próximos dois anos – como indicou o Fed na manutenção da taxa de juros entre 0% e 0,25% ao ano até 2013. Este artigo pretende debater os impactos sobre a economia brasileira decorrente de uma nova crise e discutir se estamos preparados para enfrentá-la.

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No primeiro cenário, as divergências políticas nos EUA tornam-se mais complicadas, gerando naturalmente um ambiente rígido e com mais incertezas para a administração da política fiscal. O pessimismo irá tomar conta dos investidores, derrubando as bolsas de valores e deprimindo o crédito internacional. No curto prazo, a taxa de câmbio no Brasil irá se desvalorizar rapidamente (ultrapassando os R$ 2 por dólar), prejudicando o desempenho financeiro das empresas domésticas capitalizadas em moeda estrangeira. E, com a demanda mundial reprimida, os preços das commodities irão cair, jogando a economia brasileira em uma forte recessão.

O governo deverá realizar os ajustes clássicos de condução de políticas econômicas. Com a queda da inflação, o Banco Central deverá reduzir rapidamente a taxa de juros. Entretanto, diferentemente de 2008, o crédito ao consumidor não terá tanto impulso em virtude do forte crescimento do endividamento das famílias e empresas brasileiras, nos últimos dois anos. A condição fiscal, atualmente, está um pouco pior. O coeficiente de endividamento, determinado pela razão dívida líquida sobre o PIB, permaneceu em aproximadamente 39% do PIB, e o déficit público subiu de 1,4% para 2,5% do PIB. Estimo que o governo pode sustentar, se necessário, por dois anos consecutivos um déficit público de 3,5% do PIB para amenizar a recessão. Isso seria fundamental para estimular a demanda doméstica via efeito multiplicador.

No fronte externo, o Banco Central terá mais dificuldade para combater a valorização do dólar do que em 2008, pois a razão reservas internacionais em proporção do PIB permaneceram em 14%, mas o déficit em transações correntes (diferença entre exportações e importações de bens e serviços) aumentou de 1,7% para 2,6%. Ou seja, haverá uma pressão maior sobre a demanda de dólares em um período de crise financeira.

Pelo equilíbrio macroeconômico, podemos afirmar que o Brasil está preparado para enfrentar uma nova crise internacional se comparamos com outros países. Mas isso não quer dizer que o país esteja imune às instabilidades da economia internacional. Com isso, devemos ficar realmente atentos aos novos acontecimentos mundiais, em particular na economia norte-americana e torcer para que apenas o segundo cenário se concretize.

Lucas Lautert Dezordi, professor de Economia da FAE, é economista-chefe da Inva Capital.

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