Nada como a cidade vazia, silenciosa, sem engarrafamentos de trânsito, filas gigantescas nos bancos, ruas e estacionamentos entulhados de gente e de carros. Tenho a impressão de que é nas férias que se descobre qual seria o tamanho máximo que a cidade deveria ter para continuar a ser prazerosamente habitável. Curitiba, para mim, deveria ter parado 500 mil habitantes atrás, mas reconheço que isso é o tipo do pensamento inútil e irrealizável.
A realidade é bem outra: Curitiba continua e continuará a crescer aceleradamente e os estudos mais confiáveis demonstram que, dentro de menos de dez anos, o chamado Núcleo Urbano Central (NUC) da região, compreendendo a capital e os municípios vizinhos, passará da casa dos 4 milhões de habitantes. Como a maior parte da região adjacente a Curitiba é constituída de cidades-dormitório, isso significa que o acréscimo de mais 1 milhão de pessoas agravará nossos problemas urbanos, que são muito sérios, embora mascarados por um marketing eficaz.
Mas como frear o crescimento dos grandes centros para evitar que as condições de vida entrem em um processo de degradação progressiva e inapelável? Paulo Haddad, um dos melhores economistas brasileiros, que foi ministro do Planejamento e posteriormente da Fazenda no governo de Itamar Franco, tem desenvolvido estudos sobre o que chama de capacidade de desenvolvimento endógeno nas cidades, municípios e regiões brasileiras e suas conclusões são irrespondíveis: o inchamento das cidades de maior porte vai continuar e se agravar simplesmente porque as condições de sobrevivência dos centros menores são cada vez mais duvidosas. Para Haddad, o processo de empobrecimento dos pequenos municípios é um círculo vicioso: com a estagnação da economia local, bancos e lojas comerciais fecham, produtores vendem suas propriedades, prestadores de serviços desaparecem e também desaparecem os empregos e os estímulos aos empreendedores locais. Estes, sem oportunidades de sobrevivência, migram e, consequentemente, reduzem ainda mais a capacidade da economia voltar a se desenvolver. Está instalado o ciclo da miséria.
O caso do Paraná é muito eloquente: entre os anos quarenta e setenta, vimos a expansão da economia e da população em direção ao oeste, assistimos ao nascimento e ao crescimento de centenas de núcleos populacionais, a desconcentração e descentralização das atividades e das riquezas do estado. A economia cafeeira, por exemplo, era, tipicamente, uma economia de pequenos negócios, pois a densidade econômica do café era altíssima e assim permitia que pequenas propriedades sobrevivessem e prosperassem com ela. Uma saca de café valia dez, quinze vezes o que valia uma saca de milho ou de soja e, como resultado, para gerar a mesma renda agrícola do café, um produtor necessitaria de dez, quinze vezes mais produção e, portanto, de terra. Núcleos urbanos de pequeno porte sobreviviam, o comércio e os serviços se multiplicavam como cogumelos. A "modernização conservadora" da agricultura paranaense acabou com tudo isso. Duzentos e poucos municípios paranaenses perderam e continuam a perder população, renda e dinamismo nos últimos trinta anos.
A economia regional é mais uma vez reveladora: enquanto na década de sessenta, 70% do volume de faturamento dos produtores paranaenses estivesse distribuído fora da área da capital e adjacências, que representava 30% do total, hoje em dia essa conta virou de cabeça para baixo: Curitiba e adjacências representam quase 70% do total do faturamento da economia paranaense e quase 75% da receita tributária. O interior perdeu colossalmente sua expressão.
Acredito que esse é um dos maiores desafios que os novos governantes que serão eleitos no final do ano terão de enfrentar. Cabe a nós eleitores começar a perguntar aos candidatos como pretendem, objetivamente, fazê-lo. Até agora, reinou entre eles um silêncio suspeito sobre o assunto. Que cheira mais a perplexidade do que a sabedoria e meditação.
Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.