O governo federal anunciou, no fim de janeiro, a liberação de R$ 83 bilhões em crédito, numa tentativa de movimentar a economia brasileira. Os setores contemplados foram habitação, infraestrutura, agricultura, máquinas, exportação e fluxo de caixa para pequenas empresas. Mas será que é o suficiente? Numa primeira análise, a ação é grandiosa. Contudo, analisando de forma mais racional, verificamos que esse montante representa apenas 2,5% do estoque de crédito no país. É pouco. E vale lembrar que em 2015 a disponibilidade de crédito já havia encolhido quase 4%, somando a isso a disparada do dólar em quase 50% e a inflação acumulada superando os 10%. Diante disso, temos pela frente um cenário bem desfavorável. Os R$ 83 bilhões parecem somente um grão de areia no deserto. Todos os setores da economia nacional precisam de mais.
Olhando para o setor de transportes, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou um pacote de flexibilização dos financiamentos, visando melhorar as negociações e levar um alento ao fluxo de caixa das empresas. Quem realizou o financiamento de máquinas, equipamentos, caminhões e ônibus via Refin PSI terá a oportunidade de renegociar de seis a 12 parcelas que estão por vencer, com a possibilidade do novo subcrédito ter até 24 parcelas.
Atualmente, transportar aqui é 83% mais caro que nos Estados Unidos
Sem dúvida isso vai ajudar e contribuir com o setor neste momento. Mas também é pouco. A questão é que estamos vendo ações pontuais, mas nenhum pacote de medidas levando em consideração a economia como um todo. Há quanto tempo, por exemplo, são reivindicados investimentos expressivos nas rodovias? Afinal, o Brasil é um país essencialmente rodoviário. Anos passam e nada acontece. Atualmente, transportar aqui é 83% mais caro que nos EUA. Temos mais de 1,5 milhão de quilômetros de rodovias no país, mas as pavimentações não ultrapassam 500 mil quilômetros. E o custo operacional do conjunto caminhão/carreta no transporte de carga em rodovia não pavimentada aumenta 55% em relação à rodovia pavimentada. São as empresas, transportadoras, os autônomos e seus clientes, que pagam essa conta.
Enquanto não se olhar para o macro, elencando as prioridades que farão com que a economia caminhe num ritmo mais forte, ações pontuais como essas servirão apenas para apagar incêndios. Cobre-se aqui, mas outra parte fica descoberta. E assim segue esse círculo vicioso que estamos vivenciando nos últimos 20 anos, pelo menos.
Olhar o todo é fundamental para que o transporte brasileiro de cargas seja rentável para quem transporta, para quem produz e também para o consumidor final. Precisamos parar de criar expectativas e incertezas. É hora de focar os esforços em ações efetivas e com benefícios não apenas no curto prazo, mas também – e principalmente – com benefícios que perdurem no longo prazo.