A sustentabilidade já passou daquela "onda" ligada ao 3.° setor e hoje abre mercados e oportunidades de negócio

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O dinheiro já aderiu à sustentabilidade do planeta. Ou podemos dizer que a sustentabilidade é verde da cor do dinheiro? As frases podem soar polêmicas aos ouvidos dos defensores mais radicais, porém refletem uma questão intrínseca a esse processo que é cada vez mais regido por conflitos que envolvem aspectos puramente financeiros. A sustentabilidade já passou daquela "onda" ligada ao 3.° setor e hoje abre mercados e oportunidades de negócio, valoriza empresas, incentiva investimentos, determina regulações e influencia a reputação das corporações.

Os chamados fundos sustentáveis são um bom exemplo desse avanço. Criados para atrair investimentos em empresas éticas e socioambientalmente corretas, que tenham políticas de mitigação de gases poluentes, ou em instituições que preservam florestas, esse tipo de aporte cresceu 70% apenas no continente asiático, de 2008 a 2010. Na mesma linha, já somam 15 os índices de sustentabilidade adotados pelas principais bolsas de valores do mundo. Reconhecidas pela sua capacidade de aglutinar empresas de gestão sólida e bem vistas pelo mercado, essas carteiras apresentam boa valorização e servem de incentivo para que outras organizações de capital aberto comecem a pensar no assunto e adotar modelos de gestão que contemplem esta cadeia de valores.

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A BM&F Bovespa comemorou em novembro os 5 anos de seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), cujo critério de seleção e questionário foram desenvolvidos pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Eaesp/FGV. Lançado como referencial do mercado brasileiro para os investimentos social e ambientalmente responsáveis, sua carteira de 2011 reúne 38 grandes companhias. Elas representam 18 setores e somam R$ 1,17 trilhão em valor de mercado, o equivalente a 46,1% do valor de mercado total das companhias com ações negociadas na principal bolsa de valores brasileira.

Como prova de que a sustentabilidade gera riquezas e valor, BM&F Bovespa em parceria com o BNDES, lançou na 16.ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-16), que aconteceu no começo deste mês no México, seu novo índice nesta área, o ICO2 – Índice de Carbono Eficiente, para empresas que possuem uma política de redução de emissões alinhada com sua estratégia. Outro bom exemplo é a ISO 26000 que passa a vigorar agora. Criada para ser a principal referência no que diz respeito à responsabilidade social nas empresas, governos, e organizações civis, a nova norma internacional tem caráter de diretriz. Sua construção levou cinco anos de trabalho árduo, na qual o Brasil se destacou por sua liderança.

Muito além das empresas, o "capital verde" também é disputado por países. Na COP-16 as mais 190 nações presentes debateram madrugada a dentro o acordo final. Como toda edição desse evento, as atenções ficam em torno de quem irá "pagar a conta" para preservar o planeta, ou quem será beneficiado por possíveis fundos criados com a mesma finalidade. Na verdade, são interesses econômicos que estão em jogo, no mesmo tabuleiro que trata da saúde do planeta.

Outra promessa nesse cenário é o mercado de carbono. No Brasil, espera-se que ele cresça significativamente em 2011, uma vez que o país é considerado fornecedor de créditos pela suas características geoeconômicas e matriz energética limpa do planeta. Os projetos que envolvem MDL – Mecanismos de Desenvolvimento Limpo e (REEDS) Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação – também deverão crescer significativamente. E esses são apenas exemplos de oportunidades em um mercado, que abrangerá consultorias em gerenciamento de projetos, revisão de processos e novas tecnologias que converterão para uma economia de baixo carbono.

Esse conjunto de novas perspectivas de mercado, modelos de gestão, oportunidades de carreiras e sistemas inovadores de produção, uma vez suportado por um processo de sensibilização, articulação e mobilização nacional entre o setor privado, governo e sociedade civil, poderá colocar o Brasil em uma posição de vanguarda e como protagonistas líder no cenário da sustentabilidade mundial. Esse caminho é real, possível e atual. Depende apenas de nós. Afinal, o verde do dinheiro internacional é o mesmo que emoldura a nossa bandeira e que ilumina o futuro do planeta.

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Norman Arruda Filho é superintendente do Isae/FGV e membro da comissão brasileira que participou da COP-16.