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Crises gravíssimas assolam o país. Pandemia, economia travada, desemprego, pane energética, devastação ambiental, inflação galopante, fome, miséria... O Brasil está em modo off, soterrado em problemas que paralisam seu desenvolvimento socioeconômico.
Muitos brasileiros pedem o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, mas imagine o precipício para qual caminharemos se, em vez de focarmos nas crises gravíssimas existentes, com dólar, combustível e insumos com cotação nas nuvens, jogarmos mais lenha na fornalha da governabilidade?
A abertura do processo de impeachment não resolve os problemas que o país atravessa. O impedimento neste momento mais prejudica que soluciona. Afinal, impeachment não se define num estalar de dedos. Recordando: o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff teve início em 2 de dezembro de 2015, quando o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, deu prosseguimento ao pedido dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. E somente em 31 de agosto de 2016 o Congresso Nacional bateu o martelo pela cassação do mandato.
Foram 273 dias de processo. O país ficou praticamente parado por oito meses. O mesmo ocorreria se Arthur Lira, presidente da Câmara, autorizasse a análise de um dos 120 pedidos de impeachment contra Bolsonaro que estão em sua mesa. E, se o pedido fosse aceito pela casa legislativa, a sentença só seria anunciada às portas das eleições de 2022. E cá entre nós, não há na Câmara dos Deputados 342 votos necessários para que se autorize a abertura do processo.
Não defendo Jair Bolsonaro, não apoio a maioria de seus atos, mas também não vejo com bons olhos a paralisia total do Brasil por causa de um processo de impeachment que pode prejudicar ainda mais, talvez até de forma irreversível, o povo brasileiro. Temos crises muitos mais urgentes para combater. Tocar um impeachment agora só iria intensificar o clima de incertezas pelo qual estamos submersos, além de afastar de vez investidores internacionais, prejudicando a pauta propositiva do país, com a esperada retomada do crescimento econômico. Impeachment não é a resposta mais adequada para o país superar o momento desafiador que enfrenta.
Sim, há problemas de governabilidade, desobediência civil, afrontamento aos princípios constitucionais e às instituições, isso sem falar nas bravatas e fake news que têm colocado uns contra os outros, gerando um ambiente de guerra, mentiras, ameaças, ódio, intolerância e agressividade. Mas há um país em perigo! Temos de salvá-lo já!
Não podemos permitir que extremistas e radicais aproveitem o calor do momento para tocar fogo, pouco se importando com as consequências de seus atos para a nação. Precisamos, sim, ter calma, respirar fundo, contar até três. Temos de ser fortes, incisivos e, dentro de um tom republicano, cobrar que o governo faça o seu dever de casa. E que se construa um diálogo propositivo entre Executivo, Legislativo e Judiciário para destravar as reformas que tirem o país do buraco.
Como brasileiros e representantes da população, temos a obrigação de diminuir a temperatura da crise política, agindo com tranquilidade, equilíbrio e diálogo para focar na recolocação da locomotiva Brasil em modo on.
Renata Abreu é presidente do Podemos e deputada federal por São Paulo.