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O TSE divulgou os primeiros dados sobre as eleições de 2014 e afirmou que "aumentou a participação das mulheres na política, o número de mulheres em disputa por algum cargo nas eleições gerais deste ano é 46,5% maior do que no último pleito". Em 2010 foram 5.056 candidatas, ou 22,43% do total. Do total de candidaturas, menos de 15% foram eleitas. Praticamente não houve avanço nestes números se levarmos em conta que o eleitorado feminino corresponde a 52,13%. Os partidos apenas cumpriram a cota de 30% imposta por lei.

O número de candidatas não significa um aumento das mulheres na política brasileira; o aumento só pode ser considerado se tivermos mais mulheres ocupando cargos em partidos, instâncias políticas indicadas, ou disputando eleições em condições de igualdade, com a mesma estrutura financeira, social e partidária dos homens.

No meio político partidário, nem sempre o clima é acolhedor em relação às mulheres. De maneira sutil, o ambiente é hostil e até agressivo à presença delas. O jogo do poder é excludente; assim, a mulher acaba desistindo ou perdendo a vontade de participar. A cultura machista, incluindo o machismo praticado pelas próprias mulheres, também dificulta a ascensão daquelas que querem participar. É comum haver desconfiança em relação às candidatas e de sua capacidade para atuar na política. Questiona-se se quando eleita, ela poderá conciliar as funções domésticas, profissionais e políticas. Na visão machista da sociedade, espera-se que ela seja apenas a dona de casa ou a trabalhadora que concilia as duas coisas.

Ver a mulher preparada para o poder ainda está distante do imaginário coletivo, é como se poder político fosse um sonho proibido para quem nasceu mulher. Dentro da própria família, sonhos maiores são sabotados; já houve pré-candidata desistindo porque a família não autorizou a candidatura, achando que política não é lugar ou coisa de mulher.

No cenário político atual, são fundamentais ações de resgate da autoestima e valorização do feminino. As mulheres de hoje ainda sentem em suas vidas o resultado de um processo de opressão e alienação imposta pelo patriarcado que só permitiu-lhes participar recentemente dos processos políticos. Talvez seja necessária uma maneira de ver e fazer política diferente para acolher e incentivar as mulheres a participar da vida política.

A postura crítica em relação ao baixo incentivo para a participação política feminina é essencial até que possamos ver a participação paritária na hora de pedir votos. Percebe-se que a mobilização feita pelo poder público, movimentos feministas e ativistas sociais, buscando o empoderamento feminino, começa a mexer sutilmente nas estruturas de candidaturas, mas os partidos ainda têm obrigação de trabalhar com mais afinco nessa questão.

As mulheres não podem continuar à margem do sistema político brasileiro. Somos poderosas, representando mais de 50% do eleitorado brasileiro, e se quisermos podemos eleger, sozinhas, um presidente. Mas precisamos nos conscientizar; é preciso sermos empoderadas pelo voto de outras mulheres. Mais mulheres participando realmente com igualdade na política de nosso país não é apenas uma necessidade para cumprir metas numéricas, é a reparação de um lapso histórico em relação a todas nós.

Neuza Antunes, bióloga, é ecofeminista, ativista socioambiental e consultora em sustentabilidade e direitos humanos.

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