Em vários textos dos séculos 18 e 19, e até do princípio do século 20, é comum observar associação entre o estudo da Economia e a busca da felicidade

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Quando a economia começou a despontar como ciência para a humanidade, era normal acreditar que aquele campo de estudos tinha, entre outras funções, a finalidade de promover a felicidade humana. No entanto, o que ocorreu é que, em um dado momento da história, os estudiosos desta ciência humana esqueceram e até passaram a renegar que é uma de suas funções a busca da felicidade.

Os primeiros pensadores da Economia estudaram intensamente os fatores que influenciam na felicidade das pessoas. Jeremy Bentham, filósofo inglês nascido no século 18, buscava responder como maximizar a utilidade e a felicidade. Para ele, a utilidade é definida como a propriedade que um dado bem possui de trazer ao indivíduo algum beneficio, prazer ou felicidade.

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Em vários textos dos séculos 18 e 19, e até do principio do século 20, é comum observar associação entre o estudo da Economia e a busca da felicidade. Porém, em dado momento, a felicidade parou de frequentar o debate econômico.

No início do século 20, sob inspiração do Positivismo, a Economia passou a buscar a construção de um modelo de ser humano que pudesse sustentar toda a teoria de forma consistente e positiva e, principalmente, modelável matematicamente. A economia não conseguia definir o que era felicidade e a hipótese de maximizar algo não definível era totalmente inaceitável para a ciência positivista. Assim, a teoria da utilidade triunfou e nasceu o homus economicus, eterno maximizador racional de utilidade.

Durante muito tempo, a equação mais renda mais felicidade funcionou muito bem. Mas, a partir da década de 1960, as nações mais desenvolvidas passaram a aumentar a renda – e o nível geral de felicidade de sua população não cresceu na mesma proporção. Diante desse fato, a Economia precisou rever o pressuposto de que o homem é um ser racional, egoísta e maximizador de utilidade.

Nos últimos anos, inúmeros estudos foram elaborados para entender a felicidade. Inicialmente, formou-se certo consenso de que a única forma viável de se medir o grau de felicidade de uma pessoa era acreditando naquilo que ela externava. Assim, a típica pesquisa sobre felicidade passou a ser feita com questionários, sempre baseado no julgamento do próprio indivíduo pesquisado sobre a satisfação dele com a vida.

Sabe-se que nem sempre as pessoas conseguem ser totalmente sinceras em respostas como essas. Também existe um consenso de que as respostas podem variar ao longo do tempo, até mesmo em questão de minutos. Uma pessoa que diz ter alto nível de satisfação com a vida pode responder de outra forma após uma discussão de casal, por exemplo.

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Mas ainda com essas limitações, as pesquisas continuam a ser feitas e seus resultados, compilados. Como resultado a suposição é que se muitas pessoas forem pesquisadas e se as pesquisas forem repetidas ano após ano, será possível medir o nível de satisfação de uma população com a vida.

Um estudo curioso foi feito por Alois Stutzer e Bruno Frey, da University of Zurich, com dados de uma extensa pesquisa do Socio-Economic Panel, da Alemanha. Com o título "O casamento faz as pessoas felizes ou pessoas felizes é que se casam?", o estudo investiga a relação entre casamento e felicidade.

O estudo chega à conclusão de que pessoas casadas são mais felizes e satisfeitas com a vida do que aquelas que permanecem solteiras. O efeito do casamento, no grau de satisfação com a vida, é equivalente a um aumento de duas vezes e meia na renda.

De acordo com o estudo, o grau de felicidade cresce de forma significativa nos seis anos anteriores ao casamento e atinge o pico um ano após as núpcias. Após um ano de casado, o nível de felicidade começa a cair. No décimo ano depois do casamento, o nível de satisfação com a vida é inferior ao de dez anos antes do matrimônio. Mas a queda no nível de satisfação com a vida não decorre do relacionamento. A curva de felicidade daqueles que permanecem solteiros também descende ao longo do tempo.

Dados estatísticos não servem para explicar situações particulares. E estatística nao é exatamente a melhor ciência para explicar questões de relacionamento. Porém, um pouco de história e muitos estudos são uma referência para uma reflexão: com base nas estatísticas, você não deve colocar seu casamento em risco para tentar ganhar mais dinheiro e ser mais feliz.

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Denise Hills é superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco.