Valores especiais associados à expectativa de resultados, além dos financeiros, como a expectativa de agregar valor social e cultural e ajudar a construir uma sociedade diferente pela formação dos cidadãos têm motivado dezenas de fundos de investimentos a se aproximarem da educação básica.
A educação superior foi a etapa inicial dos investidores por conta de políticas de acesso a ele, como as versões iniciais do Prouni, que transformaram faculdades e universidades sem fins lucrativos em instituições com fins lucrativos, para se isentarem de impostos com a oferta de vagas gratuitas a alunos com baixo poder aquisitivo. Oferecer educação com lucro deixou de ser “amoral”. Universidades, centros universitários e faculdades passaram a ser empresas, desde que tivessem alguma qualidade e agregassem valor na formação do cidadão. E o Fies ampliou o acesso das classes C e D, com maior volume populacional e maior expectativa de movimentação social.
A atração de investidores para a educação básica tem como fundamento financeiro um indicador que consiste na divisão do LTV (Life Time Value – quantidade de valor que um cliente contribui para a sua empresa ao longo da vida) pelo CAC (custo de aquisição de clientes). As startups mais valiosas ostentam indicador entre 10 e 15. Já uma escola de educação básica que oferece da educação infantil ao ensino médio mostram valores entre 50 a 83, ou seja, custo de captação baixo para o tempo de vida do cliente, que pode ser de 15 a 20 anos, se o aluno entra na escola entre 1 a 3 anos e sai com 17.
A chegada dos investidores ao segmento ainda traz a otimização de processos administrativos
Outras atrativos tornam a educação básica um mercado muito promissor. Para apenas 2.500 instituições de ensino superior, há mais de 36.000 de educação básica. A pulverização de alunos também é muito grande: as maiores escolas não têm mais do que 2.000 alunos cada uma. A receita é previsível, pois os tickets médios são dados e conhecidos pelo posicionamento institucional e quanto às horas aulas/dia e atividades oferecidas. A evasão é abaixo de um dígito. A inadimplência é baixa e recuperável em menos de 2 anos.
Um atrativo à parte é a oferta de serviços e atividades complementares à formação tradicional. Hoje a receita das escolas de educação básica supera R$ 60 bilhões/ano, mas as famílias dispendem mais R$ 40 bilhões em programas complementares (reforço escolar, inglês, atividades físicas e artísticas). Só os cursos de língua inglesa superam R$ 10 bilhões ao ano (25% dos valores extras dos cursos curriculares). Cursos e atividades no contraturno da formação curricular podem ampliar a receita em 66,7%.
A chegada dos investidores ao segmento ainda traz a otimização de processos administrativos. A Saber, mantida pela Kroton, diz que um centro de serviços único pode cortar em 50% custos com cobrança, registro acadêmico e ações de relacionamento. Com a melhoria de processos ou de contratação de serviços externos, os resultados operacionais podem ter um acréscimo de valor na ordem de mais 15%.
Leia também: O Japão e a educação (artigo de Ademar Batista Pereira, publicado em 14 de julho de 2018)
Ou seja, investir num segmento onde a vida útil do cliente pode chegar a 17 anos, evasão e inadimplência são da ordem de um dígito, atividades complementares podem agregar 66,7% de novas receitas e redução de custos mais 15% via otimização de processos transacionais, supera em muito o início do investimento na educação superior dos anos 1990.
A expectativa é de que estes grupos tenham aprendido que a educação não pode ser tratada como um modelo extrativista e merece um investimento mínimo na formação e especialização das equipes administrativas e acadêmicas, e em recursos tecnológico para atender a evolução das gerações e seus modelos de aprendizagem.
Os resultados das instituições de ensino superior nos últimos anos são muito ruins: a base de alunos não cresce e o valor da mensalidade média chegou cair mais de 25% em dois anos. Que venha, então, o desafio do investimento e a consolidação do segmento da educação básica no Brasil.