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Como diretora de escola, sempre tiro um tempo para entrar em sala de aula e conversar com os alunos. Em um desses bate-papos, falamos sobre a questão do trânsito na frente da escola e da dificuldade nos horários de rush, já que muitos pais não se contentam mais em parar em fila dupla. Conversa vai, conversa vem, uma das crianças comentou que o pai sempre sai para festas e bebe muito, mas não deixa a mãe voltar dirigindo. Na concepção dele, "minha esposa não sabe dirigir, eu conduzo melhor bêbado do que ela sóbria".

Dando continuidade à conversa, outro aluno fala sobre uma festa a que foi com a família. O pai, policial, fez questão de levar a arma e, depois de muito beber, se indispôs com outro convidado e sacou o revólver. Todos esses comentários vieram de crianças entre 7 e 9 anos. Aí fica o questionamento: como educar esses jovens em um país onde a falta de ética, de respeito pelo próximo e a impunidade imperam?

É nesse contexto que as pessoas envolvidas com a área de educação trabalham. Se antes o papel da escola era apenas ensinar, hoje também precisamos educar os nossos jovens, tarefa que nos foi delegada pelas famílias. Na escola, vivemos diariamente o pesadelo de orientar as crianças para um mundo que não existe mais em nosso país. Procuramos bons exemplos, mas eles são raros. Procuramos ídolos, mas não temos. Procuramos heróis, mas eles não aparecem. Procuramos políticos, mas só encontramos corruptos, sonegadores, pessoas que mentem, enganam e roubam. Procuramos a espiritualidade, mas, com o dinheiro e os bens materiais acima de tudo, fica difícil encontrá-la.

Como, então, educar nossos alunos? Como levar essa geração a um pensar positivo, de que viver no Brasil vale a pena? Como mostrar a eles que existem regras de convivência que precisam ser seguidas, se o exemplo em casa demonstra o contrário? Por comodidade, muitos pais deixam essas questões de lado e o resultado são jovens sem disciplina, sem valores e que não sabem diferenciar o "sim" do "não". E é na escola que eles se deparam com suas primeiras experiências de negação, de contrariedade e de regras impostas em favor de um bem comum.

Nesse cenário, a escola surge com o papel cada vez maior de orientar as crianças para o caminho do bem, da honestidade, da lealdade e da verdade. Seja em questões "pequenas", como no trânsito, ou em situações mais complexas, quem trabalha com educação no Brasil precisa estar preparado para tudo.

Esther Cristina Pereira, psicopedagoga, é diretora da Escola Atuação e diretora de Ensino Fundamental do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR).

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