A educação mista (coeducação) e a diferenciada (separada para meninos e meninas) são consideradas nos estudos mais recentes como duas abordagens não excludentes e complementares. As diferenças de estilos de aprendizagem dos dois sexos requerem estratégias educativas que atendam a suas necessidades específicas. Pesquisas atuais revelam que, em uma ou outra abordagem, há aspectos fortes e fracos. Somente o uso inteligente da liberdade educativa consegue apropriar-se do conhecimento já construído sobre a matéria.
Nos EUA a educação diferenciada recebeu um novo impulso, pois o secretário da Educação, Arne Duncan, tem trabalhado para a implantação deste modelo educativo nas escolas públicas com êxito total como indica www.urbanprep.org No Reino Unido, dentre as 50 melhores escolas, encontram-se 36 diferenciadas e o ministro David Miliband, em dezembro de 2004, declarou sobre a necessidade de insistir nos benefícios derivados para os jovens de uma educação em colégios diferenciados.
A educação diferenciada nas escolas públicas do Reino Unido, da Alemanha, do Canadá e dos EUA tem obtido resultados acadêmicos excelentes, sem problemas de tornarem as crianças analfabetas para lidar com o outro sexo. Sabe-se que a convivência social não se resume aos colegas de escola, mas também à convivência com irmãos e irmãs, parentes e com os amigos extraescola. Também se verifica que na coeducação, por exigir atenções especiais da escola em termos de qualidade de convivência, na prática, as escolas mistas não têm apresentado um nível respeitoso no trato entre meninos e meninas e professores, em virtude da crescente indisciplina e violência. De qualquer forma, o projeto educativo que tiver flexibilidade em fazer opções pode ser favorecido por um ou outro método. O igualitarismo das estratégias pedagógicas produz tensões no processo ensino-aprendizagem e os professores reconhecem as dificuldades em lidar com essas diferenças de estilos psicológicos em determinadas disciplinas.
As escolas públicas diferenciadas nos EUA e Inglaterra obtiveram destacados resultados acadêmicos internacionais. Recentemente a educação diferenciada, em todo o território dos EUA, estendeu-se a 500 escolas e, por sua vez, "a ministra da educação inglesa, Sarah McCarthy-Fry, considera que a educação diferenciada ajudará que as meninas se interessem mais por matérias tais como ciências e engenharia".
A liberdade educativa e a objetividade das pesquisas sugerem que as meninas não são discriminadas pelo emprego de metodologias de ensino-aprendizagem diferenciadas dos meninos. Neofeministas defendem uma educação que não prejudique as meninas e propõem a diferenciação parcial como a mais adequada. Da mesma forma também não se verificam que, nas escolas que promovem a educação separada, se tenham fomentado a desigualdade entre os sexos. O que se destaca é que: uma autêntica igualdade de oportunidades para meninos e meninas requer uma abordagem pedagógica diferenciada, e a uniformidade de tratamento educativo acaba sendo menos eficaz tanto para os meninos como para as meninas.
Novamente a opção madura e objetiva de uma ou outra abordagem pedagógica é a tendência que se verifica pela iniciativa da ministra da educação de Berlin, Ingrid Stahmer (partido social-democrata), que implantou um projeto piloto em 156 escolas públicas onde se desenvolvem aulas de Matemática "só para meninas", com um excelente resultado, refletido no aumento do acesso de mulheres a carreiras técnicas.
Sabe-se que a Unesco em sua 11.ª reunião, celebrada em Paris de 14/11 a 15/12/1960, dispõe expressamente em seu artigo 2.º que não serão consideradas como discriminação: "A criação ou manutenção de sistemas ou estabelecimentos de ensino separados para os alunos do sexo masculino e para os do sexo feminino sempre que esses sistemas ou estabelecimentos ofereçam facilidades equivalentes de acesso ao ensino, disponham de pessoal docente igualmente qualificado, assim como de locais escolares e de uma equipe de igual qualidade e permita seguir os mesmos programas de estudo ou programas equivalentes".
Com os elementos fornecidos pelas pesquisas mundiais, a educação diferenciada aparece como uma inovação de ruptura a favor da liberdade de educação privilegiando as diferenças individuais. O emprego científico de uma ou outra abordagem é um ganho para toda a sociedade. A manutenção de um sistema educativo uniforme seria deixar-se condicionar por preconceitos pedagógicos que estão sendo ultrapassados pela pesquisa de ponta atual.
Paulo Sertek, doutor em Educação pela UFPR, é autor de Responsabilidade Social e Competência Interpessoal, Empreendedorismo e Administração e Planejamento Estratégico. paulo-sertek@uol.com.br