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Imagem ilustrativa.| Foto: K. Schneider/ Pixabay

A dúvida cruel paira na cabeça do consumidor. Ele está indeciso entre comprar uma TV LED de 50 polegadas em dez parcelas de R$ 250 ou fazer um esforço de poupar e comprar à vista o aparelho por R$ 2 mil. No fim, ele chega à conclusão de que R$ 250 por mês é muito para seu orçamento e decide optar por comprar um outro modelo, menor, de 42 polegadas, dividido em dez parcelas de R$ 210. Na cabeça dele, poupará R$ 40 por mês.

Esse exemplo é muito comum e acontece no dia a dia do consumidor. Estudos apontam que o brasileiro, na média, parcela suas compras e dificilmente olha o valor final da aquisição, avaliando mais se a parcela cabe no bolso. Essa realidade está retratada no relatório S&P Global Financial Literacy Survey, que mede o índice de analfabetismo financeiro. O estudo aponta que, no Brasil, só 35% das pessoas entrevistadas acertaram as respostas das questões relacionadas a pelo menos três dos quatro conceitos analisados: diversificação de risco, inflação, habilidade numérica e juros compostos. Nas economias desenvolvidas o número de pessoas preparadas para entender esses conceitos básicos chega a 55%.  Nessa pesquisa sobre conhecimentos financeiros básicos, o Brasil está na 67ª posição entre os 143 países analisados.

Quando se analisa o nível de educação financeira dos brasileiros que têm acesso a serviços bancários, constata-se que esta taxa também é inferior à média mundial. Enquanto no mundo 53% das pessoas que usam cartão de crédito ou tomam empréstimos de instituições financeiras são alfabetizadas financeiramente, no Brasil esse porcentual corresponde a somente 40%.

Voltando ao exemplo inicial, percebe-se dois erros na tomada de decisão do consumidor. O primeiro é o de não passar por sua cabeça optar pelo sacrifício de poupar para obter um benefício de 25% de desconto (em vez de R$ 2,5 mil, ele pagaria R$ 2 mil se poupasse); o segundo, e pior, é optar por um modelo inferior de aparelho pelo qual, no fim, pagará mais em relação ao de 50 polegadas comprado à vista, só porque “a parcela coube no bolso”.

Para a maioria de brasileiros poupar não é um hábito, mas parcelar compras sim. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), somente 10% dos brasileiros entrevistados fazem da poupança um ato de compromisso permanente por mês; do restante, 40% poupam quando sobra dinheiro e 50% não guardam dinheiro em nenhuma circunstância. Esses dados convergem com os apresentados pelo Banco Mundial, segundo os quais os poupadores representam 28% da população brasileira, metade do porcentual de outras economias, inclusive com menor renda per capita, como a Bolívia e o Paraguai. Enquanto no Brasil a taxa entre poupança bruta e o PIB oscila entre 11% e 16%, na Bolívia chega a 25%.

A grande conclusão desses dados é de que, além de o brasileiro ter uma renda baixa, ele ainda não sabe lidar com as suas finanças pessoais de forma eficiente. Atualmente a taxa Selic está no patamar de 2% ao ano e a poupança remunerará 1,4% ao ano (70% da Selic). Se levarmos em conta a inflação projetada (IPCA) pelo Banco Central na casa dos 3%, este ano os juros reais serão negativos. Não faz sentido pagar tanto pelo parcelamento de qualquer compra.

O caminho mais certeiro para diminuir essas deficiências de entendimento é a educação. Em 2010, o governo brasileiro aprovou o Decreto 7.397, em que se reconhece a educação financeira como uma forma de inclusão social, para o desenvolvimento da população brasileira. Há também, atualmente, uma discussão por inserir conhecimentos de educação financeira no ensino fundamental e médio. Porém, esses esforços de política pública ainda são deficitários nos seus alcances perante a realidade: o brasileiro tem sérias deficiências de educação financeira. Essa educação, portanto, torna-se vital para combater essas divergências de mercado, acabar com o vício do parcelamento e de ter de conviver com juros acima de qualquer patamar aceitável. Ela é um dever de toda a sociedade, é uma questão de cidadania.

Clauana Goes, Thaisa Balbino e William de Moraes são acadêmicos da Estácio Curitiba.

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