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A educação financeira nos ajuda a controlar o dinheiro, seja nas decisões de consumo, na formação de poupança para atenuar tempos difíceis, ou para alinhar investimentos de longo prazo. É um tema de interesse universal, em especial para os jovens que lutam contra a miséria; afinal, eles têm como vantagem a vida inteira pela frente. Vale a pena enfatizar: não importa o tamanho da penúria da pessoa, a partir do momento em que ela começa a se prevenir, o resultado logo aparece. E melhor: o fim das vacas magras só depende do sujeito. Este é, na verdade, o grande trunfo da educação financeira: preparar o indivíduo para assumir o controle dos seus recursos, gerando benefício para si e para a sociedade, sem depender de ninguém.
No caso do Brasil, uma educação financeira bem conduzida causaria um impacto enorme nos rumos da nação, isto porque, segundo o relatório publicado recentemente pelo Banco Mundial, o brasileiro tem um dos mais baixos níveis de poupança do planeta, condição que seria ainda pior caso não houvesse o depósito compulsório para os trabalhadores do setor privado, o famoso FGTS.
Devido à nossa imperícia em guarnecer o próprio bolso, o Estado, por meio de seus agentes, vem dando passos relevantes no sentido de implementar a educação financeira no sistema oficial de ensino, conhecimento que, em algumas culturas, a própria família transmite. Entre as iniciativas em curso para alavancar a educação financeira cita-se a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), do Ministério da Educação, e a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), instituída por decreto presidencial. O Congresso Nacional também vem debatendo o assunto, propondo inserir a educação financeira na lei que estabelece as diretrizes e as bases da educação nacional (LDB). Na rede estadual do Paraná, a educação financeira vem sendo lecionada tanto no ciclo básico quanto no ensino médio.
Ou seja, boas intenções pipocam de todo o lado, instigando a indagação: tanta iniciativa será suficiente para reorientar o comportamento do povo perante o dinheiro? É o passado que estimula a desconfiança, e um exemplo de chance desperdiçada foi a disciplina de Educação Moral e Cívica, criada por decreto-lei, obrigatória para todos os níveis de ensino entre 1970 e 1993. Para cada fase havia uma proposta diferente, e nos cursos superiores a referida disciplina recebia o nome de Estudos de Problemas Brasileiros, assunto abrangente e relevante, que, no geral, descambou em pregação política e nada mais.
Uma formação completa em educação financeira exige habilidade em equações não lineares, funções exponenciais, gráficos diversos, diagramas, planilhas e tabelas, bem como disposição em cumprir metas inflexíveis; mas nem todo mundo aprecia a matemática ou rigores permanentes. Eis a grande vantagem: você pode alcançar a prosperidade apenas se guiando por princípios. E, para isso, há dois hábitos valiosos a serem cultivados.
O primeiro é o de não se apressar em gastar o que não se tem, contraindo dívida para adquirir um sofá, um carro de luxo ou seja o que for. Não se pode cair na conversa de comprar em “dez vezes sem juros”, porque isto simplesmente não existe. Se há prazo, há juro. Se o leitor não acredita, sugiro: na próxima vez que estiver em vias de adquirir aquela geladeira cobiçada em 12 vezes “sem juros”, aplique o total da compra e saque o valor da prestação mês a mês. Ao quitar o compromisso, sobra ou não sobra saldo na aplicação? E é assim, de pouco em pouco, que a abundância predomina. Além disso, o crediário está sujeito a outros custos, como taxa de cadastro e IOF, tudo facilitado, embutido nas parcelas. Resumindo: os dissabores dos encargos são evitados comprando-se sempre à vista, com desconto.
O segundo hábito é o de jamais gastar todo o dinheiro disponível. A mesma taxa de juros que maltrata os imprudentes favorece os precavidos. Abrace hoje mesmo a ideia de constituir um fundo exclusivo para o avançar da sua idade. Esta regra de ouro em conceber um pé-de-meia visando exclusivamente uma aposentadoria gorda vale para todas as camadas sociais, sem nenhuma exceção. Afinal, nas voltas que o mundo dá, às vezes gente rica fica pobre.
Florentino Fagundes é escritor e professor de Matemática da PUCPR.