Ensino infantil foi um dos principais afetados durante a pandemia.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
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Quando tudo isso começou, ninguém sabia a extensão da quarentena e nem podia imaginar que as escolas ficariam fechadas tanto tempo. De repente, me vi numa sinuca: eu, que sempre fui contra o contato com aparelhos eletrônicos na primeira infância, me vi organizando aulas virtuais, lives com professores especiais e vídeos educativos. Fizemos isso com muitos cuidados e limites de horário. Após nove meses de muito aprendizado, posso dizer que conseguimos alcançar boa participação das famílias da escola, sem abrir mão da nossa visão de infância.

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Precisei discordar de famílias que desejavam que seus filhos de 5 anos passassem cinco horas por dia em videochamadas, mas também daqueles que solicitaram “xerox” de tarefas, ou seja: materiais que limitam a produção da criança a uma mera reprodução de letras e números. São pensamentos ligados a uma visão mecanicista de infância, à qual não aderimos. Desenvolvemos propostas coerentes à faixa etária, respaldadas pela Base Nacional Comum Curricular brasileira e ricas em interação, concentração e potencialidade.

A pandemia revelou o melhor e o pior em todos nós, e nos obrigou a compreender melhor e compartilhar nossos princípios, como única saída para manter o ensino de qualidade que respeita a autonomia, capacidade e essência da criança. Acredito na capacidade delas, não as vejo como uma lousa em branco, e sim como pessoas com competências e possibilidades. Muitos países do mundo já enxergam dessa forma e, aqui no Brasil, estamos dando os primeiros passos nessa caminhada.

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A pandemia nos obrigou a compreender melhor e compartilhar nossos princípios, como única saída para manter o ensino de qualidade que respeita a autonomia, capacidade e essência da criança

Neste ano também aprendemos o que é resiliência, e a olhar para dentro de nossas casas e corrigir relacionamentos – enquanto ainda é tempo. Não creio que seja necessário voltar ao “normal”: devemos repensar tudo que aprendemos e continuar utilizando o que há de melhor.

Percebi professores ainda mais engajados tanto com o vínculo infantil quanto com a documentação do processo de aprendizagem, que precisou ser adaptado para dar conta da nova realidade. O trabalho em equipe foi ainda mais valorizado – afinal, na educação e em quase tudo, não fazemos nada sozinhos. Além de aprendermos a ser um pouco “YouTubers” e até designers, os corpos docentes mundo afora tornaram-se mais sensíveis, criativos e abertos à mudança nos métodos de ensino. Comodismo, preguiça, zona de conforto precisaram sair do dicionário.

Um exemplo de melhoria são os grupos de chat com os pais, separados por turma. Inicialmente, era algo que eu não desejava, porque sempre pensei que não temos o direito de entrar “na casa” das pessoas. Porém, neste ano foi preciso, e percebemos evolução na comunicação.

Sobreviveram as escolas que conseguiram manter sua visão de infância e adaptar-se ao relacionamento a distância. As escolas de Curitiba também se uniram neste momento de crise para repensar atividades, num número que passa de 60, e aquelas mais envolvidas com seus projetos pedagógicos souberam lidar melhor com a situação.

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Por fim, aprendemos que é possível fazer mais pela biossegurança do ambiente escolar – questões básicas como o álcool nas mãos e objetos devem permanecer, mas também o uso de equipamentos de proteção individual e higiene, a maior circulação de ar pelas salas de aula, entre outras providências.

A educação não será a mesma em 2021, mas nós também já somos outros. Firmes em nossos princípios, sim, mas um pouco mais capazes de entender o outro lado e dialogar em busca de melhores soluções para todos.

Marianna Canova é pedagoga, mestre em Educação e diretora do Peixinho Dourado Berçário e Educação Infantil.