Convenhamos, a história brasileira é pouco digna de orgulho. Somos o país do continente americano que mais insistiu na escravidão e um dos que mais demoraram para assegurar direitos básicos a toda a população. O voto feminino, por exemplo, foi conquistado somente em 1932. Na década de 1950, cerca de 50% dos brasileiros eram analfabetos. Como poderia um país querer se desenvolver no cenário internacional com essas condições?

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A boa notícia é que, nas últimas décadas, acordamos para a importância da educação para o desenvolvimento, e esse é o principal caminho para efetivar avanços sociais e econômicos com equidade, proporcionando a todos, e não somente a uma elite privilegiada, melhoras importantes e sustentáveis nas condições de vida.

Muito bem, acordamos. Mas ainda estamos nos espreguiçando, levantando da cama com certa dificuldade. Teremos uma década com muitos desafios! Em 2014, planejamos esse futuro próximo. O Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em junho daquele ano, traçou 20 metas que contemplam os principais entraves da educação para serem cumpridas até 2024. São metas de acesso, de inclusão, de qualidade, de formação e valorização docente, de gestão democrática, de educação superior. E de financiamento – condicionante das demais.

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Para avançarmos, todos nós precisamos nos engajar

A crise política e econômica que o Brasil atravessa certamente é e será por algum tempo um grande dificultador para a execução do PNE. Mas há ganhos intangíveis, igualmente fundamentais para o sucesso dessa trajetória, sendo conquistados. Em 2015, estados e municípios se viram obrigados, conforme a lei, a produzir ou a adaptar Planos de educação locais, adequando-os ao PNE. A movimentação pelo país, apesar de pouco divulgada na mídia, foi grande: 22 unidades da federação e 5.506 municípios sancionaram suas leis. Os poucos que ainda não chegaram lá estão em vias de. E como uma das etapas do processo de criação desses planos locais foi necessariamente a consulta pública, é de esperar que a sociedade tenha participado minimamente do processo.

Esse é um ponto essencial na luta por uma educação de qualidade para todos. Para avançarmos, todos nós precisamos nos engajar. O próprio texto constitucional define que a educação é um direito de todos e um dever do Estado e das famílias. Aos poucos, vamos percebendo, na conversa do dia a dia, que o tema ganha espaço. Um interesse aqui, uma pergunta ali, uma história acolá, e a preocupação com a educação vai se espalhando, tomando corpo e espaço no cotidiano das pessoas. São avanços ainda tímidos, mas, ainda assim, avanços. Nosso papel, como instituição do terceiro setor, é amplificar essa disseminação. O interesse de um cidadão por um tema social só vai se ampliar e se consolidar se ele tiver acesso a cada vez mais e melhores informações sobre o assunto.

Recentemente, o movimento Todos Pela Educação apoiou a criação de uma associação de jornalistas especializados em educação, a Jeduca, que vai se dedicar a qualificar a cobertura jornalística da área. Esse movimento é sintomático e muito bem-vindo. Mostra que existe a preocupação de levar à sociedade informação correta e bem apurada sobre o tema, para que todos possam entender melhor os desafios do ensino como um todo – mas sobretudo aqueles lançados à escola do bairro, ao dia a dia dos professores e dos alunos. Assim, todos terão condição de fazer sua parte, apoiando a comunidade escolar, valorizando a educação. Em ano eleitoral, nada melhor do que buscar aprender mais sobre o assunto para, na hora do voto, escolher o candidato que mais terá condições de colaborar nesse processo.

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Ricardo Falzetta é jornalista e gerente de conteúdo do movimento Todos Pela Educação.
Mariana Mandelli é jornalista e repórter do movimento Todos Pela Educação.