Em uma roda de conversa, comparei a educação brasileira à do Reino Unido e um colega alegou que não é possível comparar dois países tão diferentes, já que somos 35 vezes maiores que a terra da rainha Elizabeth. Segundo ele, países com melhor desempenho costumam ser pequenos, com sociedades homogêneas e coesas. Para provar que dimensão não interfere na qualidade da educação de um país, vamos traçar um comparativo com o Canadá, o segundo maior país do mundo.
O Canadá não tem um sistema educacional único, pois é baseado em províncias autônomas. Mesmo assim, o comprometimento em oferecer oportunidades iguais na escola é um traço em comum entre todas as regiões do país. Apesar da dimensão continental, como temos aqui no Brasil, o Canadá não é uma nação de extremos – pelo contrário, seus resultados no Pisa (Programa para Avaliação Internacional de Alunos) mostram uma média alta, com pouca diferença entre os estudantes (mais ou menos favorecidos, social e financeiramente) e uma variação muito pequena entre diferentes escolas, em comparação com a média de países desenvolvidos. Os alunos estrangeiros (22%) conseguem manter o mesmo nível dos canadenses.
No Brasil, os professores ganham menos e lidam com turmas maiores do que seus pares na maioria dos países da OCDE
Além disso, há um forte investimento de base em alfabetização, com a contratação de educadores bem treinados, investimento em recursos como bibliotecas nas escolas e avaliações para identificar escolas ou alunos que possam estar enfrentando dificuldades. No ensino superior, 100% dos alunos canadenses estudam em universidades públicas, enquanto no Brasil, são apenas 25%.
A diferença na valorização do professor também é gritante: no Brasil, os professores ganham menos e lidam com turmas maiores do que seus pares na maioria dos países da OCDE. No Canadá, o ingresso na profissão de professor é altamente seletivo, os profissionais são reconhecidos, respeitados e muito bem pagos.
Enquanto a remuneração média dos professores brasileiros não passa de R$ 5 mil mensais, segundo a OCDE, em Toronto, por exemplo, o salário médio dos professores de escolas públicas é o equivalente a R$ 20 mil por mês. E além de ter um bom salário, os professores são instruídos a realizar cursos para atualização e aperfeiçoamento. Em sala de aula, os alunos fazem atividades para estimular o senso crítico e habilidades emocionais, como autocontrole, responsabilidade, organização, colaboração e iniciativa própria.
- O Japão e a educação (artigo de Ademar Batista Pereira, publicado em 14 de julho de 2018)
- Educação é outra história (artigo de Fausto Zamboni, publicado em 3 de agosto de 2018)
- Projetos de políticos para a educação ou projetos de educação para políticos? (artigo de Marcelo Lemos de Medeiros, publicado em 25 de outubro de 2018)
Depois de todos os meus argumentos, aquele meu colega encontrou outro pretexto para justificar o nosso atraso na educação: o Canadá tem pouco mais de 37 milhões de habitantes, enquanto a população do Brasil ultrapassa os 202 milhões. Sendo assim, vamos falar da Educação na China, que tem mais de 1 bilhão de habitantes e disputa o topo do ranking do Pisa entre os 10 melhores. Mas isso é para outro artigo…
Paulo Arns da Cunha é presidente da Divisão de Ensino do Grupo Positivo.
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