Quem é Albert Sabin, o que ele fez e o que isso tem a ver com educação, pesquisa e desenvolvimento?
Recentemente estive na universidade em que me formei, a Universidade Estadual de Londrina (UEL). Ao visitar as instalações da UEL, em frente ao Anfiteatro Cyro Grossi (ou Pinicão – é assim mesmo que ele é conhecido), deparei-me com uma placa comemorativa de uma importante visita realizada na universidade em 1982, pelo doutor Albert Sabin, a dois anos do início de minha graduação. Ando alguns passos e pergunto a dois jovens alunos: vocês sabem que é Sabin? Infelizmente, a resposta foi não.
Relembrando a história, Sabin e sua equipe foram os responsáveis pelo desenvolvimento da vacina contra a poliomielite, doença popularmente conhecida como paralisia infantil. Médico radicado nos EUA, nasceu em uma região da Rússia, hoje território da Polônia. Anos e anos de intenso trabalho de pesquisa e importantes investimentos de algumas instituições de ensino americanas e mundiais onde esse médico trabalhou, com atividades recheadas de desafios, muita persistência e até mesmo teimosia, levaram Sabin à conquista de um dos mais importantes avanços do século 20 no mundo, e em particular no Brasil: a completa erradicação da doença, por meio de maciças campanhas da vacina criada por este importante cientista.
Precisamos discutir a manutenção de um conjunto de trabalhos fundamentais de pesquisa em áreas estratégicas
Para se ter uma ideia do avanço, desde 1989 a doença foi erradicada no Brasil. Faz 30 anos que não registramos nenhum caso. Nos 30 anos anteriores, cerca de 30 mil casos haviam sido registrados. Lembro-me muito das campanhas de vacinação em massa, e participei de algumas delas na minha juventude, indo de casa em casa em alguns bairros de Londrina. Um dos grandes desafios de Sabin ocorreu na década de 50 do século passado: havia uma outra vacina testada e utilizada nos EUA, com base em cepas de vírus mortos, que reduzia os efeitos da doença; Sabin, na época, estudava e desenvolvia uma vacina com vírus atenuados, mas que não só melhoravam os efeitos, mas também criavam resistência e eliminavam a ocorrência da doença. Havia desconfiança em utilizar vírus atenuados, pois estavam vivos quando introduzidos nas pessoas. A história é longa e complexa, mas demonstra a luta e persistência de um cientista que teve recursos e conseguiu dedicar décadas de pesquisa para que se atingisse um importante desenvolvimento: a hoje conhecidíssima vacina em gotas, aquela do Zé Gotinha. A existência de recursos, a convivência em uma instituição de ensino e pesquisa e a continuidade do trabalho foram fundamentais para este importante avanço.
Considerada esta história, ao ouvir as últimas notícias sobre o corte no financiamento de bolsas de estudo e pesquisa no nosso país, eu me preocupo intensamente. Estamos falando tanto de futuro e cortamos o que poderia nos levar a um desenvolvimento mais promissor e sustentável. Como engenheiro civil e professor, permito-me fazer um paralelo da situação que estamos vivendo com a construção de uma obra.
Em qualquer edificação, a fundação é considerada a principal etapa responsável por sustentar o projeto sonhado. Nela são feitos grandes investimentos para que as etapas seguintes possam acontecer com segurança. No futuro sonhado para o nosso país, a educação e a pesquisa fazem a função da fundação na construção! Sem ela, ou com ela instável e "fraca", não conseguiremos erguer projetos em nosso país. Não conseguiremos levantar nosso país.
- O desmonte da ciência e da pesquisa no Brasil (artigo de Lafaiete Neves, publicado em 17 de agosto de 2018)
- Ciência no Brasil: um iceberg que derrete (artigo de Adelaide H. P. Silva, publicado em 14 de agosto de 2018)
- Pesquisa e desenvolvimento, um desafio ao próximo governo (artigo de Feliciano Aldazabal, publicado em 9 de outubro de 2018)
Entendo a conjuntura da nossa economia, entendo que precisamos discutir e até mesmo remanejar verbas em momentos de dificuldades orçamentárias, mas também me preocupa a possível redução de nossas estruturas de pesquisas nas mais diversas áreas, nas áreas tecnológicas que são fundamentais para o desenvolvimento; e em especial a possibilidade de descontinuidade de muitos jovens que não conseguirão criar as importantes fundações para uma sociedade mais moderna, mais sustentável, mais igualitária e mais justa. É fundamental que possamos manter e dar continuidade às pesquisas de vários jovens e pesquisadores que já realizam seus trabalhos ao longo do tempo, com persistência e até teimosia, a partir da dedicação de décadas e décadas, como ocorreu com Sabin no desenvolvimento da vacina contra a poliomielite, para que também possamos obter importantes avanços em nossa sociedade. Precisamos discutir a manutenção de um conjunto de trabalhos fundamentais de pesquisa em áreas estratégicas para o país, tais como energias renováveis ou segurança alimentar. Estamos precisando de boas fundações e lembrar mais de histórias de pesquisadores como Sabin. Que ele seja uma referência, mais que um registro de uma placa em uma parede.
Ricardo Rocha de Oliveira é presidente do Crea-PR.
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