Educação foi uma das palavras mais repetidas durante as manifestações que marcaram o mês de junho no Brasil. Faz sentido. Apesar dos avanços das últimas décadas, ainda estamos defasados. Pesquisas sugerem que a qualidade do ensino evoluiu pouco, professores são mal remunerados e o desempenho dos alunos em testes internacionais é abaixo da média.

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Essa constatação, cruzada com dados do mercado de trabalho, é fundamental para entender o estágio atual da economia brasileira. Não é de hoje que a educação precisa melhorar. Mas no passado não muito distante, a falta de educação formal era menos importante para explicar seu crescimento. Na década de 90, por exemplo, a taxa de desemprego era perto de 15% e tínhamos gente bem qualificada desempregada. Se uma empresa precisasse ampliar seu quadro de funcionários, era fácil e até barato contratar.

O Brasil crescia pouco por outras razões, como a hiperinflação. A restrição estava na falta de demanda e não em fatores de oferta. Talvez por isso não tivéssemos o incentivo para investir em qualificação.

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Felizmente, passamos a crescer mais. Por quase dez anos, o PIB avançou a mais de 4% ao ano impulsionado pela demanda. Desde 2011, no entanto, limitações de oferta nos levam a um crescimento mais baixo. O desemprego hoje está próximo de 5% e o custo do trabalho passou a ser uma das principais preocupações dos gestores.

Para que os avanços do mercado de trabalho sejam permanentes, a melhor forma de equacionar o problema é com ganhos de produtividade. Estudos mostram que a educação é uma maneira eficiente de melhorar a produtividade. É possível, inclusive, quantificar o efeito da melhor educação no crescimento econômico, usando, por exemplo, os resultados do Pisa – o teste da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), que mede os conhecimentos e habilidades de adolescentes de 15 anos de idade ao redor do mundo.

Para o Brasil, se tivéssemos um desempenho no teste semelhante ao do Chile, alcançaríamos um crescimento médio, ao ano, de 3,5% até 2020. Se atingíssemos a média dos países da OECD, o crescimento seria de 4,4%. Aos níveis atuais de desempenho, estimamos que o crescimento médio não chegue a 3% na média dos próximos anos.

Defasagem educacional implica baixa qualificação média do trabalhador. Segundo dados do Banco Mundial, apenas 10% da força de trabalho no Brasil possui ensino superior completo, ante 25% no Chile e 40% no Peru. Nada menos do que 40% dos trabalhadores no país possuem apenas ensino fundamental.

A boa notícia é que, pressionado, o Brasil começa a responder. Muitas empresas investem na qualificação de seus funcionários e o governo anunciou que pretende destinar os royalties do petróleo à educação pública. Podemos ajudar nessa transformação também dentro de casa. Em artigo recém publicado, os professores Guyonne Kalb e Jan C. van Ours reúnem evidências de que ler para os filhos, desde seus primeiros anos, aumenta a capacidade de concentração e a probabilidade de ser um bom (e bem remunerado) profissional no futuro.

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O clamor das ruas reforça a necessidade urgente do avanço. Transformar a educação requer perseverança. É preciso investir de forma eficiente para que os brasileiros cresçam em igualdade de condições. As empresas e as famílias também têm seu papel. A educação consistente para todos abre espaço para ganhos de produtividade e para um crescimento mais sólido e equânime ao longo do tempo.

Caio Megale, mestre em Economia pela PUC-RJ, é economista do Itaú Unibanco.