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O conceito de educação vai muito além do simples acesso ao conhecimento que se obtém em escolas ou universidades. Ter isso nos ajuda a obter um entendimento mais profundo sobre que acontece ao nosso redor e agir para melhorar o ambiente em que vivemos em prol da sociedade.
Uma pessoa que está em um universo no qual é desafiada o tempo todo – com o contato com mentes pensantes, estudos, pesquisas, relatórios e gente com ideias diferentes – a pensar e assimilar novas informações, adquire um maior discernimento entre o bem e mal, o que é correto e não correto, distingue opiniões, além de compreender com clareza como suas atitudes podem afetar o próximo, em relação à segurança e respeito às diferenças.
Em um momento no qual diversos povos estão em fortes conflitos por questões ideológicas, políticas, religiosas ou econômicas, precisamos mais do que nunca de pessoas preparadas para alcançarmos a paz
Isso reverbera diretamente em todas as áreas no qual o indivíduo está inserido – saúde, relacionamentos, entre outros. É um jeito diferente de mostrar para o mundo como podemos evoluir.
Por que estou dizendo tudo isso? Porque o conhecimento nunca foi tão importante, principalmente em uma era na qual as fake news são utilizadas como arma em um jogo de poder político sem fim, alimentando a polarização e a manipulação. E entendo que ele está muito acima desses interesses e pode ser promovido cada vez mais por meio da cooperação global entre universidades e entidades ao redor do mundo.
Se você tem conhecimento embasado, se sente mais aberto para trocar ideias, se sente mais seguro para dizer “não”, detém maior controle emocional para argumentar sem o uso da violência como autodefesa – algo que nem sempre acontece no mundo político, no qual muitos integrantes sequer chegaram a concluir um curso de graduação. Hoje nós temos uma educação mais aberta a todos, menos restrita, porém, sem o respeito e prestígio conquistado anteriormente.
Digo tudo isso porque vivencio na prática a experiência de colocar a cooperação educacional acima da política dentro da Universidade Hebraica de Jerusalém. A instituição entende a importância de dar a oportunidade para pessoas de vários locais do mundo terem acesso ao conhecimento, independentemente de sua crença religiosa, etnia ou cultura.
A mentalidade da escola é tão voltada para essa integração que a vice-presidente de Diversidade da faculdade, localizada em Israel, é de origem árabe. Mona Khoury-Kassabri tem feito um trabalho brilhante em reforçar a importância e coexistência de todas as religiões que ali são praticadas diariamente.
Na época do Hamadan, por exemplo, tradição dos muçulmanos, a universidade se prepara para oferecer esse momento a eles. Do total de 30 mil alunos da Hebraica, 21% deles são árabes. O mesmo é feito com a celebração das práticas budistas adotadas pelos japoneses, além de outras culturas presentes no campus. A intenção é promover a oportunidade para que todos os alunos se sentem juntos e discutam essas crenças, quebrando barreiras e promovendo o respeito entre eles, não importa de onde vieram, qual a cor da sua pele ou sua religião.
Durante uma vez no mês, a instituição promove uma festa cultural especialmente para cada cultura, trazendo não somente os debates, mas a oportunidade de os alunos conhecerem tradições ligadas à música e gastronomia de cada uma delas. As discussões também avançam para a esfera política, por meio de uma “mini-ONU” que temos na universidade, que se destaca pelo trabalho de unir essas culturas por meio do respeito e a busca pela paz.
Aos poucos, o número de brasileiros que chegam a Israel para estudar na escola está cada vez maior, com o envolvimento de entidades representativas, empresas, entre outras, que muitas vezes entram em ação para ajudar a viabilizar a ida deles para estudarem na instituição. Inclusive o próprio Brasil já foi tema de estudos por lá, promovidos pelo instituto The Leonard Davis.
O mundo só encontrará paz tendo a educação como principal caminho. Em um momento no qual diversos povos estão em fortes conflitos por questões ideológicas, políticas, religiosas ou econômicas, precisamos mais do que nunca de pessoas preparadas para alcançarmos a paz. E as universidades podem ser boas incubadoras de grandes mentes para isso.
Dana Lilian Revi é CEO da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos