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Curitiba já apresenta uma grande movimentação das legendas que entrarão na disputa pela prefeitura nas eleições de 2008.

Há o candidato à reeleição pelo PSDB, o prefeito Beto Richa que deve ter o apoio do DEM (ex-PFL), do PDT e do PSB de Jaime Lerner. Sua estratégia de campanha está centrada em consolidar sua popularidade, já que as últimas pesquisas de opinião o colocam folgadamente na dianteira da corrida eleitoral, deixando bem atrás todos os seus possíveis concorrentes. Um forte aliado do atual prefeito é o deputado federal Gustavo Fruet, do PSDB, que conseguiu se firmar na capital com uma expressiva votação nas últimas eleições para deputado federal.

A popularidade de Beto Richa é conseqüência de sua política de tocador de obras em toda a cidade. Do centro, com a reforma das calçadas e o recapeamento das ruas centrais, à periferia, com abertura de vias para dar conta do aumento de milhares de novos veículos em circulação. São obras que aparecem aos olhos dos eleitores. Aparecem bem mais do que os canos de água e esgoto que a Sanepar coloca embaixo da terra. Há ainda a fixação da imagem de bom administrador no imaginário do eleitor, com uma eficiente política de propaganda e marketing.

A oposição busca construir uma estratégia eleitoral que leve a eleição para o segundo turno para se unir contra o candidato Beto Richa. A principal figura de oposição ao atual prefeito é o governador Roberto Requião, ex-prefeito de Curitiba. A estratégia eleitoral de Requião é bem conhecida na trajetória política dele: desde a aliança com forças políticas importantes, como foi o apoio do então governador José Richa, nas eleições para prefeito de Curitiba, em 1985, até a política de desconstrução dessas alianças e dos adversários políticos, usando para isso de todas as armas possíveis. Foi assim que ele se projetou na cena política de Curitiba e do Paraná. Em Curitiba, no ano de 1985, desconstruiu a imagem de Jaime Lerner ao associá-lo aos empresários da especulação imobiliária e do transporte coletivo. Quem não se lembra do panfleto: "Mãos ao alto, a tarifa é um assalto". Essa estratégia deu certo e ele saiu vitorioso naquela eleição.

Na eleição para governador, em 1990, Requião desconstruiu a imagem do ex-aliado José Richa, apresentando o contracheque da aposentadoria do ex-governador. Essa mesma prática de desconstrução fez com Alvaro Dias e Osmar Dias, também seus antigos aliados. Ao mesmo tempo, coopta antigos adversários para o seu governo, com fez com Rafael Greca de Macedo e Reinhold Stephanes, da antiga Arena e do PDS, legendas da ditadura militar. E isso ele faz para fragilizar seus adversários políticos. Em uma sociedade onde não há partidos políticos, os líderes carismáticos e populistas cooptam legendas, grupos e lideranças, desde a República até as províncias.

Para Roberto Requião, as alianças são conjunturais e feitas à medida dos seus interesses. Ele elege seus adversários e aliados em cada momento eleitoral e, como gosta de afirmar que é gramsciano, sempre quer ter a hegemonia do processo.

Pela estratégia do atual governador, há duas linhas de ação. Uma é o inimigo político a ser destruído: o atual prefeito. Para isso, utiliza desde mecanismos de retenção de repasses financeiros ao município de Curitiba até a tentativa de envolver o prefeito da capital com denúncias de ilícitos cometidos pelo irmão do prefeito quando atuou na equipe do ex-governador Jaime Lerner. Uma outra linha de ação é a política de alianças. Essa já está montada desde a sua eleição para o governo do estado, em 2006. As legendas que o apoiaram no primeiro e segundo turno já participam do seu governo. É o caso de PT, PV e de parte do PSDB.

A estratégia para levar a eleição ao segundo turno é lançar um candidato pelo PMDB. No momento, ela permite que existam dois candidatos que irão disputar a convenção do PMDB municipal: Rafael Greca de Macedo e o atual reitor da UFPR, Carlos Moreira Junior, que tem o apoio de Requião para vencer a convenção. Este último é muito articulado com o PT, o que pode vir a ser uma candidatura acertada entre PT e PMDB. Mesmo não indo adiante, ela força a existência do segundo turno, favorecendo assim as duas legendas e a estratégia de Requião para derrotar Richa. Dentro dessa estratégia eleitoral, o PMDB deve apoiar, na etapa final da eleição, a candidata única do PT, Gleisi Hoffmann, que tem condições de chegar ao segundo turno para enfrentar Beto Richa.

Ao eleitorado, como sempre, cabe continuar aguardando o desenrolar dos fatos como mero espectador a ser chamado a aplaudir o espetáculo já montado.

Lafaiete Neves é doutor em Economia pela UFPR e professor do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da Unifae – Centro Universitário Franciscano. l.lafa@terra.com.br

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