Conversando com minha filha de 11 anos, perguntei a ela em quem escolheria para presidente da República se pudesse votar. Ela respondeu, de pronto, dizendo que anularia seu voto. Desconsertado, pois é lamentável sentir uma criança desacreditada com a política, assim como tantos jovens, perguntei a mim mesmo: por quê? Qual o futuro que eles antevêem para o nosso país?
Atônito, lembrei que a mídia (tevês, rádios, jornais) noticia diariamente não só a ação de uma quadrilha de políticos que age contra os interesses da nação, mas também a suspeita de que o presidente Lula sabe (sabia) de tudo. Lembrei-me de que quando eu tinha a idade de minha filha tínhamos políticos a admirar, políticos que priorizavam os interesses da sociedade. E hoje existe uma carência violenta desses políticos, que existem mas que são exceções.
Entendi então que a opção de minha filha pelo voto nulo, longe de ser uma atitude de desinteresse, é uma forma de repúdio ao horror político, que talvez intuitivamente ela esteja sentindo. Aliás, não só ela. Delineia-se claramente uma tendência do eleitorado por uma forma de protesto ou descrédito na classe político o voto nulo.
Concordo com instituições respeitáveis, como a OAB e a CNBB, que se manifestam contra esta opção por entenderem que é uma forma de retrocesso, uma vez que desvaloriza a grande conquista democrática de escolher nossos representantes em todos os escalões.
Entretanto, não podemos negar que os poderes Legislativo e Executivo estão corroendo nossos valores democráticos e criminosamente roubando de nossos jovens a capacidade de sonhar e de acreditar em política decente.
As Comissões Parlamentares de Inquérito se multiplicam e acabam por afrontar os brasileiros. Não bastasse a maré de escândalos que nos abatia (mensalão, bingos, Correios etc.), eis que surge mais uma vergonha: os sanguessugas. E os políticos desonestos são julgados não pela Justiça ou outra instância da sociedade, mas por seus pares que brincam de polícia e ladrão, ladrão e polícia, desacreditando-se.
Enquanto isto, usando de forma indigente (ou demagogicamente inteligente, dependendo do público a que se destina), as mais variadas metáforas, o presidente Lula desrespeita a nação, ao procurar nos convencer de que o que disse durante toda a sua vida política significa exatamente o contrário do que pensa e como ele age. Transformou o programa de assistência social numa máquina eleitoral.
Virou o pai dos programas assistencialistas, com variedades como Bolsa-Família, Bolsa-Escola, Vale-Gás etc. Aliás, seu exemplo é copiado em todo o país por governadores interessados na reeleição e na perpetuação da deseducação política. Não podemos mais aceitar o populismo assistencial em que se transformou o governo Lula e seus congêneres em inúmeros estados, que malandramente não dão às pessoas a opção entre "o peixe e a vara de pescar".
"A vara de pescar", que se materializaria com um crescimento econômico expressivo, promotor de emprego e renda, daria a todos a chance de pescar seu próprio desenvolvimento e de deixar de receber "o peixe-esmola". Mas os políticos populistas preferem exatamente o contrário. Afinal, o retorno eleitoral da estratégia da esmola é evidente.
Não por acaso o presidente Lula, que optou por estacionar o país em índices de crescimento paralelos ao do Haiti, vive vários personagens protetores, tal qual verdadeiro ator. Em determinados momentos é o pai bondoso, que promete proteção ao filho indefeso; em outros, é o Robin Hood, apropriando-se dos frutos do trabalho de alguns para dar as bolsas assistencialistas, cobrando pela intermediação do negócio. Em outros ainda, faz de conta que não percebe o desrespeito de invasões a propriedades privadas etc., angariando apoio entre os "desprotegidos".
Assim como nos áureos tempos do coronelismo, estratégias obscenas, por utilizar brasileiros distantes da informação de que poderiam "pescar seus peixes", passam a constituir os "currais eleitorais", presas fáceis dos compradores de votos. São milhões e milhões de brasileiros, aos quais não são dadas condições de "pescar" e que, por receberem o "peixe pronto", renovam os mandatos de seus "pais", "padrinhos", "protetores", elegendo e reelegendo políticos que esmeram-se em praticar o assistencialismo.
Esses milhões de brasileiros, a maioria deserdada em sua ignorância, podem reeleger Lula, governadores demagogos e os piores congressistas da história nacional, com honrosas exceções. Uma troca inescrupulosa, que é a compra de votos, travestida de inúmeros disfarces, pode dar a esses políticos, infelizmente, o número de votos necessários para continuidade de sua prática que deseduca e nos faz desacreditar da democracia.
Temos de usar nosso direito de questionar, de falar, de escrever, de debater e de cobrar. Se não aproveitarmos este poder de estimular o debate público, seremos culpados de não tentar esclarecer a sociedade brasileira, que corre perigo. E amanhã, quando o horror político, econômico e social comparecer ao encontro marcado pelo nosso imobilismo, nossos filhos podem perguntar: vocês dormiram enquanto deveriam estar de guarda? Pior ainda, não dormiram, reconheceram o perigo e não disseram nada, não fizeram nada, não propuseram nada, o que responderemos?
Cláudio Slaviero é empresário e ex-presidente da Associação Comercial do Paraná.
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