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Vivemos um ano atípico que mobiliza todo o planeta, uma pandemia que provoca nossa organização social, valores e princípios, movimenta e acelera processos com ferramentas digitais e culturas antes não perseveradas e, principalmente, nos motiva a sermos inovadores e criativos.
No setor da mobilidade não é diferente; a Europa se mobiliza numa ação denominada “European Green Deal”, em que as metas de descarbonização impactam a mobilidade com desafios de reduzir em 55% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e zerar estes impactos até 2050. Certamente esta ação provocará mudanças no portfólio da mobilidade mundial, na convergência em todo modo de transporte das plataformas 100% a combustão para híbridas ou elétricas.
Também a ONU, em pacto global, estabeleceu os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aplicados pelas iniciativas corporativas e públicas, um justificado caminho de foco aos pilares social, ambiental e econômico, com visão em impacto nas emissões, sustentabilidade, cidades, infraestrutura, saúde e energia limpa.
Temos, então, um cenário que deve proporcionar a aceleração para a entrada de veículos de baixa ou zero emissão. O Brasil já tem uma matriz de geração elétrica de baixa emissão, favorecendo a cadeia que envolve a energia no país. Assim, o impacto nas metas de redução de emissão e descarbonização será de fato mais eficiente, quem sabe a ponto de alavancar um futuro “Brazilian Green Deal”. A possibilidade de veículos pesados, comerciais e transporte público com a inclusão elétrica certamente propiciará uma efetiva redução nos objetivos de emissões que o país tem.
Mas, para esta paisagem, precisamos “pavimentar” a viabilidade tecnológica com desenvolvimento, infraestrutura, capacitação profissional e regulação nacional. Assim, este ano, as discussões sobre esse tema devem incluir aspectos importantes para a viabilidade do sistema de veículos elétricos e híbridos. Entre eles destacamos os desafios na regulação, debatendo os projetos de leis e dando entendimento à aderência de promover este mercado, de forma a viabilizar economicamente o futuro da adesão social no transporte eletrificado de passageiros e cargas; e o ambiente de inovação, que no mundo automobilístico é promovido pelo “campo de testes” dos esportes, onde pilotos e profissionais do setor podem compartilhar a real contribuição desta tecnologia para um transporte de emissão zero.
O impacto desta pandemia também gerou seus benefícios. Entre eles, a conscientização de que podemos respirar melhor sem emissões nos grandes centros urbanos, por exemplo, com impacto positivo em ocorrências de doenças respiratórias e traumas ortopédicos; e o uso de ferramentas digitais que contribuem para a redução de deslocamentos e para a aceleração de mudanças culturais, com a imposição de condições não convencionais que demonstraram novas possibilidades em atividades de trabalho e consumo. Modelos e padrões que podemos estabelecer para o futuro da mobilidade automotiva disruptiva e inovadora em nosso país são objetivo que merece ser discutido.
Ricardo Kenzo é chairperson do Simpósio SAE Brasil de Veículos Elétricos e Híbridos, vice-presidente do Instituto de Engenharia e integrante do Conselho de Inovação e Competitividade da Fiesp.