Faço um convite para refletirmos sobre o futuro do turismo, o famoso “turismo pós-pandemia”. É fato que este foi um dos setores mais afetados pela Covid-19. Recentemente a ONU divulgou uma estimativa de até US$ 3,3 trilhões em perdas para o turismo.
Antes de mais nada, por mais tímido que seja, é possível ver o lado positivo entre as empresas do setor. Especialistas comentam que voltamos ao turbulento 2001, mas nem mesmo naquela ocasião vi tanta colaboração e união em busca de uma melhora comum.
A Disney está reabrindo. Mas ninguém poderá abraçar o Mickey. Quando um dos maiores símbolos do turismo e do entretenimento no mundo fez o anúncio, a sensação foi mesmo a de que nada mais será como antes. Quem aproveitou aproveitou. Vamos contar aos nossos netos como era visitar o Coliseu sem máscaras, ver shows na Broadway em cadeiras coladinhas e ir a aglomerações de festas populares como o nosso carnaval.
Seria o fim do jeitinho brasileiro de explorar o mundo e receber turistas? O calor humano substituído por um aceno e litros de álcool em gel? O que estamos observando, como parceiro importante de prestadores de serviços do setor, é que uma adaptação aos novos tempos é mais que necessária para dar sequência às atividades que representam, na média histórica, cerca de 8% do PIB do Brasil. A tendência, por ora, é de um turismo mais individualizado.
O Ministério do Turismo lançou em junho o selo Turismo Responsável, que orienta prestadores de serviços do setor – incluindo de hospedagem, guia turístico e bares e restaurantes – quais protocolos devem ser adotados para receber turistas. Para ter o certificado de empresa confiável em tempos de crise sanitária, é preciso estar listado no Cadastro dos Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur) e reportar o enquadradramento aos protocolos exigidos. Na lista, itens como uso das áreas de lazer só sob agendamento e os famosos cafés da manhã de hotel sem mais buffets fartos para se servir à vontade. Tudo com acesso restrito, sem risco de contaminação. Além, claro, da frequente higienização, orientação para uso de máscaras e distanciamento social comum a outros setores.
Neste cenário e com as fronteiras ainda fechadas para turismo de larga escala, saem na frente as empresas que se habilitarem ao selo e focarem na experiência mais personalizada, especialmente em destinos nacionais com atrações a céu aberto, como litoral ou turismo rural. Hospedagens mais restritas, como imóveis de aluguel para temporada, também ganham tração nessa primeira onda de enfrentamento à Covid-19 pelo setor.
E no futuro? Nada será como antes? Talvez até a vacina e um tratamento conhecido o suficiente varrerem o medo para longe, o turismo viva uma experiência nova. Tudo indica que nosso melhor paralelo esteja no que o mundo passou após 11 de Setembro, quando a rigidez nos controles de segurança atingiu outro patamar. Sim, houve medo no começo, mas depois tudo retomou seu ritmo, sob um olhar mais atento aos riscos com legado até hoje.
A vigilância na segurança sanitária deve ser esse “novo normal”, com padrões mais elevados de higiene, o que é uma excelente notícia. A experiência de viagens gradualmente tende a retomar o perfil de antes, contudo, sob essa nova régua.
A reabertura do turismo com o verão europeu será um bom teste. Os cafés, símbolos de Paris, já tomaram as calçadas, respeitando, claro, o distanciamento social. Até ursos de pelúcia são usados para demarcar espaços em restaurantes da Europa, e plantas são o público de concertos. É a criatividade, tão presente também no Brasil, que deve dar o tom neste primeiro momento.
O nosso retrovisor também traz esperanças de um futuro promissor. Após um ano devastado pela gripe espanhola, o Brasil de 1919 saiu da quarentena com um anseio tão grande de celebrar o coletivo e experiências novas que registrou um dos anos mais pujantes para o entretenimento, com o Rio de Janeiro tendo o que é considerado até hoje o melhor carnaval de todos os tempos. Que venha 2021!
Francisco Alvares Bassoli, especialista em Finanças com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria, é gerente comercial do Travelex Bank.
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