A década está adiantada e até agora não apareceu uma alcunha, etiqueta ou estigma para batizá-la. Os criadores de doutrinas e padrinhos de tendências – geralmente tão ativos e inspirados – parecem desestimulados, ou o que é pior, desnorteados, sem saber em que direção apontar.

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Incerteza, dúvida ou impasse são apostos que casariam bem como sobrenome para o primeiro terço deste decênio, porém pressagiam dissabores e ninguém quer se assumir como patrono do mau agouro. Há exceções: Stephen King, economista-chefe do poderoso HSBC, teve a audácia de afirmar que terminou a era da afluência no mundo ocidental. Seu livro, When the Money Runs Out (Quando o dinheiro acaba, em tradução literal) foi avaliado pelo resenhista do Economist como "leitura essencial".

Talvez se torne um best-seller por volta de 2018: ninguém gosta de cultivar aflições. As previsões são pessimistas e as advertências, drásticas. Plausíveis e pertinentes para a grande conjuntura deixam em aberto algumas oportunidades já que o processo mundial de mutações não é linear, admite roteiros e velocidades variáveis.

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Mesmo que Deus seja brasileiro, portanto emergente, portanto latino-americano, é preciso despertar para uma nova realidade: a década será menos exuberante. Bem menos. Alguns dirão, muito menos. E assim sendo os estrategistas políticos, economistas e marqueteiros precisam rever planos, prioridades, posturas, retórica. E, se possível, admitir sua própria substituição ante as exigências de um novo repertório.

As percepções estão se alterando em grande velocidade, a escala de valores voa junto. Nessas condições a sociedade de massas torna-se imprevisível, por mais precisas que sejam as sondagens de opinião. A doutrina de "não mexer em time que está ganhando" tem um prazo de validade limitado e cada vez mais limitado considerando a volatilidade e vulnerabilidade ambientais.

A tentação de reaproveitar o script pode ser fatal e isso é válido para todas as forças que disputam o poder. Até há pouco tempo essas forças identificavam-se com os principais partidos políticos e os grandes grupos sociais. Hoje entraram em cena outros vetores – religiosos, demográficos, geográficos, econômicos e até corporativos. O país permanece um ente nacional por força de um sistema de comunicação criado nos anos 60 que dificilmente será mantido. Logo será sacudido e individuado graças às novas tecnologias.

O redesenho do país está sendo feito de forma fragmentária, desordenada, em pranchetas clandestinas. Ninguém percebe o que vem por aí, o único dado sólido, perceptível, é que, ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, o Brasil não convive com estagnação. Perdeu a paciência.

As expectativas geradas pelo ingresso no mercado de consumo, acopladas à antecipação da campanha eleitoral e à realização da Copa do Mundo criaram uma dinâmica própria.

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A Década dos Placares seria um bom nome – pode emplacar.

Alberto Dines é jornalista.