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Em defesa dos jornalistas

Nas últimas semanas, uma leva de entusiasmados estudantes universitários passou a ocupar as carteiras das turmas de primeiro ano nos 316 cursos de Jornalismo existentes no Brasil. São, em sua maioria, jovens em torno de 20 anos que optaram por abraçar uma das profissões mais exigentes e emocionantes do mundo, definida por Gabriel García Márquez como uma "paixão insaciável". Mas também, nos dias que correm, uma das atividades mais perigosas.

A Federação Internacional de Jornalistas registrou 2.271 assassinatos de profissionais entre 1990 e 2010. No ano passado foram 121 mortes e a maior parte, de acordo com a entidade, foram "crimes encomendados" para silenciar jornalistas investigativos. O Brasil ocupou o vergonhoso quinto lugar entre os países em que há maior número de crimes contra profissionais de imprensa, com seis assassinatos em 2012. Isso sem contar os casos de agressão física e verbal, as censuras, ameaças e outras formas de violência.

A própria Gazeta do Povo tem um dos seus mais respeitados profissionais, o repórter Mauri König, vivendo sob ameaça desde o ano passado, em função da série de reportagens "Polícia fora da lei", nas quais denunciou irregularidades na Polícia Civil do Paraná.

As estatísticas, infelizmente, começaram preocupantes no corrente ano: dois radialistas – Mafaldo Bezerra Goes, do Ceará, e Rodrigo Neto, de Minas Gerais – foram executados a tiros nos meses de fevereiro e março. E o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, agrediu verbalmente o repórter Felipe Recondo, do jornal O Estado de S.Paulo, chamando-o de "palhaço" e dizendo que ele deveria "chafurdar no lixo", numa atitude de todo condenável.

Na condição de professora de Jornalismo, percebo o entusiasmo contagiante dos novos aspirantes a jornalistas e renovo a minha confiança nesta atividade essencial para a vida democrática. Em pesquisa respondida nos primeiros dias de aula, ouvi de mais de duas dezenas de estudantes que "a expectativa de denunciar coisas erradas que acontecem na sociedade" é, para eles, o aspecto mais atraente da atividade jornalística (em primeiro lugar, para 40 alunos, ficou a alternativa "a consciência da importância da informação para a cidadania" como a principal característica que atraía os novos acadêmicos de Jornalismo).

Creio que, quando projetam seu futuro ligado à denúncia de "coisas erradas", estes jovens estão pensando nos desmandos dos poderosos de todos os níveis, no uso incorreto dos recursos públicos, na exploração desmesurada da natureza, no preconceito e em tantas outras formas equivocadas de convívio social. Ao mesmo tempo, quando apontam a importância da informação para que os cidadãos exerçam seus direitos e pautem seus deveres, os futuros jornalistas demonstram percepção a respeito da responsabilidade social da profissão e de sua capacidade transformadora.

Responsabilidade e importância que não podem estar submetidas a ameaças de qualquer esfera: o jornalismo precisa ser exercido com liberdade e independência, tendo como lealdade primeira o interesse coletivo. É por isso que a sociedade, no Brasil e nos demais países, deve cobrar que as autoridades garantam condições efetivas de segurança e trabalho para os profissionais de imprensa; exigir que a impunidade não prevaleça incentivando novos crimes; e condenar, por todos os meios possíveis, as violações ao direito de comunicação.

Elza Oliveira Filha, doutora em Ciência da Comunicação pela Unisinos, é professora do curso de Jornalismo da Universidade Positivo e atuou no jornalismo diário durante mais de 20 anos.

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