Muitos tomam a liberdade existente na civilização ocidental como garantida, e não entendem o que tornou possível esse arcabouço de valores. Não é coincidência que tenha sido apenas no Ocidente que essa mentalidade liberal vingou, garantindo direitos individuais que são estranhos a outras culturas. Desconhecendo o que permitiu esse avanço, corre-se o risco de destruir os pilares que sustentam essa liberdade.
E o principal fator por trás dessas conquistas é o legado judaico-cristão, justamente o alvo preferido de muitos “progressistas”. É o que alerta Brigitte Gabriel, nascida no Líbano, onde viveu por sete anos num cubículo usado como bunker da família para se proteger dos terroristas do Hezbollah, que lançaram o então próspero país no caos da guerra civil em nome de Alá.
Em seu novo livro, Rise: In Defense of Judeo-Christian Values and Freedom, ela tenta tirar os leitores do estado de paralisia, convocando-os à ação para resguardar esses valores hoje ameaçados. Por ter perdido sua infância dessa forma, e ter como única válvula de escape uma televisão em que assistia seriados americanos, Brigitte entende melhor o diferencial da América, e sabe que nada disso deve ser tido como certo. As coisas podem mudar se não houver um constante esforço para defender aquilo que importa.
A América, para aquela menina aprisionada numa realidade terrível, tornou-se uma nação em que nada era impossível, especialmente com perseverança e trabalho duro. O céu era o limite para quem efetivamente quisesse trabalhar e ser livre. Compare-se essa visão com aquela predominante na esquerda moderna, que retrata a América como uma história de opressão patriarcal e racial, incapaz de enxergar as incríveis vantagens oferecidas pela terra da liberdade.
Mesmo um dos valores mais básicos americanos, a liberdade de expressão, está sob ataque e ameaçado pela tirania da “tolerância”
Segundo Brigitte, os valores judaico-cristãos são fundamentais para construir esses blocos da civilização ocidental: liberdade, família e fé ajudaram a fornecer a estrutura para os benefícios que colhemos hoje, são os alicerces da nossa civilização. Mas esses princípios vêm se erodindo lentamente, deixando os ocidentais vulneráveis a um colapso catastrófico. Hoje, mesmo um dos valores mais básicos americanos, a liberdade de expressão, está sob ataque e ameaçado pela tirania da “tolerância”, uma forma de, na prática, calar aqueles que não se submetem à cartilha do politicamente correto.
Tudo virou “discurso de ódio”, e a liberdade de emitir sua opinião agora termina onde começa o sentimento de esquerdistas radicais. Se eles se sentem “ofendidos” com alguma coisa, então você não tem mais o direito de se expressar. Enquanto isso, as crianças aprendem nas escolas a odiar o legado americano, e os pais parecem ocupados demais com suas carreiras, bens materiais e aparelhos eletrônicos para se importar.
Na era do hedonismo, a gratificação instantânea se tornou um estilo de vida, e com ela o fracasso em reconhecer as virtudes da perseverança, do sacrifício e da autoconfiança. Para a autora, estamos descendo uma rua perigosa, com cada vez menos sinais de saída antes de alcançar um ponto sem volta. Mas sua mensagem não é derrotista. Ao contrário: é um chamado à ação, inclusive com dicas do que pode ser feito de concreto em cada capítulo, sobre diferentes assuntos.
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Os americanos não devem se sentir envergonhados de seu passado, de sua herança, de sua nacionalidade, de seu estilo de vida. Se os americanos não forem capazes de liderar a defesa dos valores da liberdade, então ninguém mais será. Independentemente de cor, raça, gênero ou background, os americanos estão unidos sob uma única bandeira da liberdade. Brigitte se tornou americana ao casar, e cria seus filhos como americanos que são. Claro que ela ainda guarda sua herança libanesa, mas não escolheu a América à toa.
Muitos tentam justificar os ataques terroristas com base em algo que a própria América teria feito. Mas isso é bobagem. Os jihadistas odeiam a América pelo que ela representa, porque os americanos são “infiéis”, e seu estilo de vida é visto como uma ameaça direta à sua crença religiosa. Por covardia, muitos acham que se adotarem comportamento “amigável” serão deixados em paz. Não compreendem que sua total destruição é a única meta desses fanáticos. Os israelenses aprenderam do jeito mais duro essa lição, após várias tentativas fracassadas de negociação com terroristas, cedendo cada vez mais sem receber nada em troca.
No Ocidente se celebra a vida, enquanto no mundo islâmico se celebra a morte. Esse contraste tem profundas consequências no estilo de vida. A América funciona como uma república democrática construída com base na igualdade, liberdade e oportunidade para todos, enquanto a lei islâmica (Sharia) é erguida sobre a submissão plena, a discriminação e a brutalidade. Em nome da “tolerância”, porém, a esquerda tem defendido essa barbárie contra os valores básicos ocidentais. Essa união entre esquerda radical e islâmicos fanáticos é explicada pelo ódio mútuo ao que o Ocidente em geral e a América em particular representam. Eles tentam destruir os pilares da civilização ocidental desde dentro, com a ajuda dos bárbaros do lado de fora.
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É a velha tática de dividir para conquistar. A esquerda, em vez de olhar para o que nos une, tenta sempre segregar o povo com base na política de identidades, jogando uns contra os outros. Como Obama desejava, ela quer mudar “fundamentalmente” a América, pois não ama de verdade seus valores e seu legado. O Ocidente está em guerra contra o Islã radical, mas a esquerda sequer aceita reconhecer o inimigo pelo nome. E o argumento da “maioria pacífica” não se sustenta: primeiro porque pesquisas mostram grande adesão de muçulmanos, mesmo os que vivem no Ocidente, aos princípios da Sharia; segundo porque não foi necessário ter uma maioria nazista para que a Alemanha nazista espalhasse o terror pelo mundo, e o mesmo vale para a Rússia bolchevique. A maioria pacífica foi irrelevante. Para Brigitte, devemos à próxima geração contar-lhes a maravilhosa verdade sobre a América e a fria e dura verdade sobre seus inimigos. Nós devemos isso a eles para que eles também possam saber como é se orgulhar de seu país e preservar as liberdades e oportunidades que não caem do céu, mas precisam ser conquistadas. É a diferença entre civilização e barbárie.
Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.