Muito se tem falado recentemente sobre o custo das passagens aéreas no Brasil – e o maior questionamento é quando as passagens reduzirão. Nesse contexto, a operação das empresas aéreas low cost (baixo custo) é sempre lembrada. Afinal, se em outros países existem passagens aéreas muito baratas, por que em nosso país não podemos também usufruir dessas vantagens?
Primeiramente, temos que definir o que é uma empresa aérea low cost. O conceito foi criado a partir da busca por redução do custo de operação feito por algumas empresas aéreas, além das medidas usuais, e que propuseram cortes em serviços que tradicionalmente eram conhecidos como normais e obrigatórios nos voos.
A primeira grande empresa a procurar esse tipo de operação foi a norte-americana Southwest, há cerca de vinte anos. Essa empresa buscou diversas medidas inéditas de economia, que depois se tornaram parte das operações hoje conhecidas como low cost. Algumas dessas medidas foram: evitar os grandes aeroportos, procurando utilizar aqueles com taxas de operação mais baixas, normalmente nas cercanias das principais cidades; padronização da frota de aeronaves, reduzindo a logística de manutenção e treinamento de tripulantes; colocação de classe única nos aviões, econômica, que permite maior quantidade de lugares a bordo; e redução, cobrança à parte ou eliminação do serviço de bordo, no que se refere à alimentação.
Há uma carência de bons aeroportos no interior do país
Outra medida, muito conhecida para nós brasileiros e autorizada recentemente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), foi o pagamento pela bagagem despachada, tendo franquia apenas naquela levada na mão pelo passageiro. Mais recentemente, favorecido pelo avanço da internet e das tecnologias portáteis, foi incorporado também o autoatendimento como fator de economia e redução de custos, pois os próprios passageiros fazem sua reserva e o check-in, com a consequente redução do número de funcionários nestas atividades nas empresas aéreas.
Essas e outras restrições nos serviços oferecidos pelas empresas aéreas resultaram, na Europa e nos Estados Unidos, em uma redução significativa no preço das passagens aéreas, e se tornaram conhecidas como operações low cost. Serviço especialmente interessante para os passageiros regulares e que não exigem tratamento diferenciado. As principais low cost europeias, como a Ryanair, a Airberlin e a Easyjet, oferecem passagens a partir de 30 euros para voos de cerca de 1 hora.
No Brasil, no período de 2002 a 2017, houve uma expressiva redução do preço das passagens. O valor médio encontrado em 2002 foi de R$ 670 e, em 2017, passou para R$ 249, descontada a inflação. É uma redução média superior a 60% no valor das passagens. Ainda assim, muito acima do valor apresentado pelas low cost estrangeiras.
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Nem mesmo a autorização da Anac para que as empresas aéreas passassem a cobrar pelas bagagens despachadas ajudou muito, ao menos até agora. Quem viaja de avião percebeu, certamente, a mudança de comportamento dos passageiros, que agora procuram levar a bagagem para dentro do avião, sem despachar, fugindo assim do pagamento da bagagem despachada.
Esse movimento era esperado e, com ele, abriu-se a possibilidade de as empresas terem mais espaço livre nos porões dos aviões para transporte de carga, levando à possível redução no preço das passagens aéreas. De todo modo, como essas medidas são muito recentes, é cedo para que se possa avaliar os resultados. Mas, por enquanto, os indicadores não têm sido favoráveis aos passageiros.
Diante das dificuldades das empresas nacionais, a Anac recentemente autorizou a low cost europeia Norwegian Air, a operar voos entre o Brasil e a Europa. Além dela, ainda existem 5 low cost argentinas solicitando operar linhas entre o Brasil e nosso vizinho. Se é um modelo que se encontra globalizado, por que não temos empresas low cost voando aqui?
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A resposta indica várias causas. Seguindo as características apresentadas pelas low cost estrangeiras, observa-se que, além de operarem em longas distâncias no país, não se encontram opções de aeroportos nas proximidades das principais cidades. Na realidade, há uma carência de bons aeroportos no interior do país. E esses aeroportos seriam os principais candidatos às operações, devido às baixas tarifas.
Quanto à padronização da frota, percebe-se que já há essa padronização. Mas, para rotas mais longas, as empresas se obrigam a utilizar aeronaves maiores, saindo do critério ideal de low cost – o que vale também quanto à unificação da classe interna, que já é observada nos voos de menor duração, aumentando o número de lugares disponíveis em cada aeronave. Observa-se também a simplificação do serviço de bordo, sendo refeições oferecidas apenas em voos de longa duração, especialmente internacionais. Assim, como nossas empresas tem voos de curta e longa duração, fica difícil adotar operações genuínas low cost.
Essas dificuldades explicam, ao menos em parte, por que ainda não temos verdadeiras low cost operando no Brasil. Ainda que o custo das passagens tenha se reduzido, refletindo em um aumento no número de passageiros num período de médio prazo, continuamos sem esse tipo de empresa operando no país. A outra parte da resposta é bem conhecida dos brasileiros: extensa tributação, taxas, tarifas, legislação restritiva e, também (por que não?), falta de infraestrutura e de incentivos para o desenvolvimento de novos destinos a preços acessíveis. Vamos acompanhar para ver como as estrangeiras se saem por aqui.