Imagem ilustrativa.| Foto: Henry Milleo/Arquivo/Gazeta do Povo
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Por que estamos cada vez mais buscando oportunidades para as questões de empregabilidade dos jovens no Brasil? Por que ONGs e empresas têm se aliado para juntas, formarem e empregarem profissionais que o mercado não enxerga como potente? De onde vem essa obsessão pelo futuro do jovem no país?

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As respostas chegam por um recorte de dados apresentados na publicação Síntese, que acaba de ser lançada pelo Instituto da Oportunidade Social (IOS) com o objetivo de traçar um verdadeiro mapa da juventude no Brasil e deixar claro o papel de cada membro da sociedade no desenvolvimento urgente dessas potências do futuro.

Os dados apresentados na publicação mostram que a população jovem do Brasil é, atualmente, a maior da história – são mais de 47 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. Também é a mais afetada pelo desemprego no Brasil, atingindo a taxa de 27,1% no primeiro trimestre de 2020, entre os jovens de 18 a 24 anos. Bem acima da média geral de 12,2% do país no período.

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Estamos encerrando um ciclo no qual teremos mais jovens produtivos que pessoas com mais de 50 anos. Na nova década, teremos mais público adulto, fruto do aumento da longevidade. De acordo com dados do IBGE, em 2050, o Brasil será o 6º país com a maior população idosa do mundo, na frente de outros países desenvolvidos. Logo ali, em 2030, daqui a oito anos, teremos mais idosos do que pessoas com até 14 anos.

Cuidar do futuro do jovem é garantir o amanhã funcionando como uma engrenagem, fazendo girar a economia de forma sustentável. Para isso, eles precisam de um emprego hoje.

Cuidar do futuro do jovem é garantir o amanhã funcionando como uma engrenagem, fazendo girar a economia de forma sustentável. Para isso, eles precisam de um emprego hoje. Precisam de oportunidades adequadas que os desenvolvam profissionalmente. Precisam de apoio para os estudos.

De acordo com os dados apontados na Síntese, 87,4% dos alunos que se formam no ensino médio vêm da rede pública, mas somente 18% dos jovens com até 25 anos de idade buscam graduação, já que 74% das vagas de graduação estão disponíveis na rede particular de ensino, com apenas 26% na rede pública.

Mas os empregadores erram ao focarem suas buscas em jovens profissionais nas universidades. Isso dificulta o avanço educacional e profissional da grande maioria que vem do ensino público e precisa do emprego para financiar uma faculdade.

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Os dados da publicação ainda apontam que, no ano passado, 17% dos jovens entre 15 e 29 anos pagam suas contas e ainda contribuem com a renda da família e 6% dos jovens sustentam integralmente as suas famílias. É muita responsabilidade para tão poucas oportunidades que o país oferece.

É por isso que a preocupação constante com o desenvolvimento dos jovens tem sido pauta de quem está realmente atento ao futuro da nossa sociedade. Em ano eleitoral, é bem importante reforçar que o candidato a qualquer cargo público que não apresentar um plano de governo que priorize os jovens, que desenvolva novas políticas públicas para apoiar a geração de emprego e garantia de desenvolvimento profissional, não merece seu voto. Não ter plano de governo definido a respeito do jovem significa que o candidato não está preocupado com a violência, com o desenvolvimento do país e que nada pretende fazer por uma geração que representa o futuro.

Já em relação ao setor empresarial, maiores beneficiadas por profissionais que vão garantir sua eficiência e sua existência no futuro bem próximo, cabe um papel que não virá dos governos. É preciso assumir essa frente e abrir de fato as oportunidades para ele.  Os empregadores precisam entender que nossos jovens não chegam prontos para trabalhar. São muitos os obstáculos, principalmente entre os jovens em situação de vulnerabilidade social. O caminho deles até o emprego formal é bem tortuoso e longo. E sua formação também é parte da responsabilidade do empresário.

Os cursos de formação profissional têm buscado somar esforços com empresas e instituições de fato preocupadas em devolver à sociedade um pouco do que conquistam. Esses cursos trazem ao jovem os conhecimentos mais demandados pelas empresas e, principalmente, trabalham as competências comportamentais que vão garantir o avanço e o progresso na profissão. Além dos conhecimentos que adquire nos cursos, o jovem brasileiro, resiliente por natureza, carrega consigo o desejo de aprender, inovar e criar.

Um dos setores de destaque na formação de mão de obra é a área de TI. A aceleração da digitalização no Brasil, tem aumentado a demanda por profissionais qualificados para o setor e isso representa uma grande oportunidade para quem quer ingressar no mercado de trabalho. Com base nos dados do Guia Salarial 2022, da Robert Half, 63% dos CIOs (Chief Innovation Officer) dizem que será mais desafiador encontrar profissionais qualificados em tecnologia este ano. Assim, o setor de tecnologia está para o emprego assim como os jovens da periferia.

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Impulsionar o desenvolvimento profissional de um jovem por meio da educação e da oportunidade de emprego é estar de fato alinhado com a agenda de desenvolvimento sustentável e ESG das empresas. Isso gera o impacto social positivo e contribuindo com as ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) propostos pela ONU, que prevê educação de qualidade, trabalho decente e crescimento econômico e redução das desigualdades.

Esse olhar cabe também às empresas. Quando isso fica claro como objetivo estratégico da empresa, não vamos mais precisar explicar por que ainda precisamos tanto da lei de cotas para impulsionar e garantir o ingresso de uma parte de jovens que ainda querem entrar para as universidades.

Diante das desigualdades e de tantos fatores que afastam e prejudicam o ingresso ágil desses jovens ao mundo do trabalho, as empresas têm um papel crucial de abrir suas portas e engajar seus pares para uma consciência cidadã, para que abracem com ela o objetivo de formar e empregar os jovens que vão moldar a sociedade do amanhã.

É a consciência cidadã que temos buscado há tempos nas urnas, eleição pós-eleição. É dela que vem a atitude em somar esforços entre empresas, ONGs, escolas e tantos canais para a real transformação social que o país precisa. Isso começa dos portões para dentro das empresas. Essa é a melhor contribuição como agente transformador para levar oportunidades aos jovens talentos e atuar para a redução das desigualdades e erradicação da pobreza no Brasil. Porque quando um jovem talento cresce, sua empresa cresce, a sociedade avança. Esse é o Brasil que nós queremos!

Kelly Lopes é graduada e pós-graduada em Tecnologia da Informação, especialista em Gestão para o Terceiro Setor com MBA em Gestão Empresarial pela FGV. É superintendente do Instituto da Oportunidade Social (IOS) e vice-presidente do Projetos Amigos das Crianças (PAC).

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